Caros amigos e amigas, este blog é um meio que encontrei de compartilhar artigos, textos, reflexões bíblicas sobre a vida e os desafios de se por em prática aquilo que cremos. Boa leitura!
domingo, 12 de junho de 2011
Afastamento que aproxima
Esther Carrenho
As diferenças podem somar na relação a dois. É justamente a expressão única que cada ser humano tem que pode enriquecer a convivência conjugal
Em minha vivência profissional, por diversas vezes tive de responder à seguinte pergunta: O que faz com que um casamento dure? Muitas coisas podem acontecer para que um relacionamento conjugal não termine em divórcio. Mas o fato de não haver uma separação entre dois parceiros não significa que exista ali um bom casamento. Pode até não existir mais casamento, embora os dois cônjuges continuem residindo sob o mesmo teto.
O que faz um casamento durar? Inúmeras coisas, e não necessariamente positivas. Então, como fazer com que uma parceria conjugal não apenas perdure por muito tempo, mas proporcione crescimento e satisfação a um homem e uma mulher? Um desses fatores é a capacidade de transitar bem no movimento de aproximação e distanciamento dentro do relacionamento, quando se fizer necessário. Não se trata daquele distanciamento acarretado pela separação, mas de Uma liberdade que cada um deve ter de se afastar do outro por um tempo, evitar o diálogo e, quem sabe, até do convívio, para desenvolver novos aspectos da sua compreensão – para, depois, voltar para o reencontro e novamente começar outra caminhada com o mesmo parceiro. Ou seja, movimentos de afastamento sem rompimento de vínculos e de reaproximação sem perda de identidade.
Em outras palavras, uma boa parceria conjugal é aquela onde muitas vezes se “rasga” o contrato já feito para começar um novo, sem trocar-se de parceiro. Muitos casais vivem numa simbiose, acreditando que cada um é uma metade do outro e que os dois, juntos, constituem uma só pessoa. Puro engano. Com dois meios, só é possível formar uma dupla de aleijados. E só. Scott Peck, psiquiatra americano, afirma que o bom casamento é aquele onde cada um tem a capacidade de viver só, mas escolheu a vida em comum. Outra possibilidade, quando dois viram um, é que a identidade de cada cônjuge desapareça e prevaleça apenas a opinião e o jeito do outro. Casamentos assim podem durar muito, mas não podemos chamar a isto de parceria. O melhor é acreditar que um dos parceiros “morreu” em vida. Não estou muito certa do que o apóstolo Paulo quis dizer quando disse que, no casamento, ambos se tornam “uma só carne”; mas, certamente, ele não quis advogar a anulação de um dos cônjuges dentro da união matrimonial.
Alguns elementos são fundamentais para esse ir e vir no relacionamento. Para que um possa se afastar, é necessário que ambos tenham recursos para não tirar a liberdade, e que cada um desenvolva a confiança em si mesmo e no outro. Na proximidade, cada um se apresenta com tudo que conhece, pensa e sente. Quanto mais próximo do outro, mais o indivíduo tende a se mostrar como de fato é, com transparência e sem reservas. É o momento da entrega. Enquanto isso, o outro pratica a escuta verdadeira e o acolhimento sem defesas e sem condições. Não há explicações; é o tempo de receber e hospedar o outro do jeito que está. Mas, mesmo com a aceitação, as revelações ouvidas podem gerar conflitos, desajustes, medos, decepções e frustrações. Novamente, faz-se necessário o afastamento, quando cada um tem a oportunidade do encontro consigo mesmo para a elaboração dos novos conteúdos recebidos do parceiro. Há a chance de se refazer, se recompor, enfim, reconstruir a própria identidade diante de novas escolhas a serem feitas.
É justamente a expressão única que cada ser humano tem que pode enriquecer a convivência conjugal. É um paradoxo, porque a unicidade dos dois evidencia também as diferenças – e diferenças não são defeitos. São apenas maneiras diversas de ser, de ver, de reagir diante da vida. As diferenças podem somar na relação a dois.
Fazendo acordos e respeitando um ao outro, os dois parceiros se darão o apoio necessário quando uma situação exigir exatamente aquilo que apenas um faz melhor.
Quem aprende o segredo de ir é capaz experimentar, na volta, o encontro misterioso que pode acontecer entre duas pessoas. Um encontro que, por constituir mistério, não pode ser explicado. Desfrutar dos encantos desse mistério pode capacitar os cônjuges para carregar todo o peso do funcionamento de uma parceria matrimonial. O exemplo para uma saudável convivência desse tipo foi dado por ninguém menos que nosso Redentor, conforme Paulo diz em sua Carta aos Filipenses: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo.”
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Muito bom este texto. Cheio de sabedoria e insight. Creio que se aplique bem a pessoas normais (ou quase normais...rsrs). Difícil é quando existem patologias sérias que afetam o compromisso de um ou dos dois...
ResponderExcluirPois é, eu também concordo. As vezes é muito difícil manter a relação quando existem circunstancias ou comportamentos que impedem a construção de uma relação de confiança e companheirismo. Aí não adianta apenas um tentar, pois o relacionamento vai estar desequilibrado. Nesse caso, acho que o melhor é a pessoa buscar encontrar alguém que possa corresponder à dedicação do outro. Obrigado pelo comentário
ResponderExcluirObrigado João. Concordo com teu comentário também. Confiança e companheirismo parecem ser elementos-chave. Algumas pessoas, talvez por um problema de formação familiar ou de outra ordem, parecem ter muita dificuldade com o desenvolver destes elementos. A solução é confiar em Deus e estar aberto/a para as bençãos que virão!...rsrs.
ResponderExcluirMarcos.