sábado, 24 de novembro de 2012

Qual Seu Propósito na Vida?


Por Flitz Klumpp

Sinto-me fascinado pela vida do homem mais sábio que já viveu: rei Salomão, filho de Davi e terceiro rei de Israel. Ele reinou no século X A.c., governando durante a era de ouro em Israel. Apesar das espantosas realizações e notoriedade, o resumo de sua vida, da perspectiva de seus últimos dias, foi que “É tudo vaidade (sem sentido)” (Eclesiastes 1.2,14).

Olhando para Salomão e tudo quanto ele alcançou durante sua célebre existência, não posso deixar de perguntar: “Como alguém que começou tão bem, e fez tantas coisas, pode chegar ao final da vida e concluir que o que realizou não fazia sentido?”

Muitos começaram idealisticamente fazendo algo que sentiu daria significado à sua vida, para depois se desiludir. Tenho observado isto em muitos que começam carreiras militares. São idealistas e pensam que podem ajudar a realizar coisas importantes, mas a realidade da guerra os leva à decepção. A resultante perda de propósito pode contribuir para o transtorno do estresse pós-traumático (PTSD, em inglês). O mesmo tipo de decepção é experimentado por pessoas envolvidas com a política e o mercado de trabalho.

Todos desejam que a vida valha a pena; todos desejam uma vida significativa. Sempre penso na afirmação do filósofo Blaise Pascal sobre o “vazio com forma de Deus”, que existe no coração de cada pessoa, um vazio que somente Deus pode preencher. John Maxwell, na "Bíblia da Liderança Cristã", se refere a outro vazio: vazio com forma de vida, que somente pode ser preenchido por uma missão na vida.

A conclusão de Salomão que “tudo é inútil, é correr atrás do vento” (Eclesiastes 1.14), diz respeito ao trabalho feito “debaixo do sol” (Eclesiastes 4.7). Se o propósito para a vida não pode ser encontrado “debaixo do sol”, então precisamos procurá-lo em outro lugar: olhar na direção do céu! Se queremos encontrar verdadeiro significado e propósito, precisamos olhar para o próprio Deus.

Meu amigo e mentor de longa data, Joe Coggeshall, me desafiou durante anos a escrever uma “declaração de propósito de vida”. “Companhias de sucesso têm uma declaração de propósito ou missão”, ele me dizia. “Por que você não pode ter a sua?” Finalmente aceitei o desafio e, desde então, descobri que considerar e por em palavras meu propósito na vida, transformou-se numa bússola que me permite rejeitar o bom em favor do melhor.

Na versão Amplificada da Bíblia, Paulo escreve: “(Porque o meu firme propósito é) que eu possa conhecê-lo (a Jesus Cristo) – [que eu possa progressivamente conhecê-lo pessoalmente mais profunda e intimamente, percebendo e reconhecendo e compreendendo as maravilhas de Sua pessoa mais forte e claramente]” (Filipenses 3.10). No que diz respeito a propósito de vida, este me parece bem razoável.

Qual é o seu propósito? Por que você faz o que faz? Se você não tem uma declaração de propósito de vida, por que não faz uma?

Questões Para Reflexão ou Discussão

1. Já lhe aconteceu, apesar de muita atividade e esforço, não realizar muita coisa? Por que isso acontece?
2. Que acha da avaliação desanimadora do rei Salomão, que “tudo é vaidade e correr atrás do vento”?
3. O autor sugere considerar nosso propósito de vida e colocá-lo sob a forma de uma declaração. Você já fez a sua?
4. Como você responderia se alguém lhe perguntasse hoje, qual o seu propósito na vida?
5. Desejando considerar outras passagens da Bíblia relacionadas ao tema, sugerimos: Provérbios 6.20-23; 14.12; 17.24; 19.20; Eclesiastes 12.9-14; Mateus 5.16; 6.19-21,33.

Sobre o autor deste texto:
Fritz Klumpp e sua esposa, Ann, vivem em Ashland, Virgínia, EUA. Ele foi piloto da Marinha Americana, serviu durante a Guerra do Vietnã, aposentou-se depois de uma carreira como piloto na Delta Air Lines. Seu website é www.fritzklumpp.com. Tradução de Mércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes e Eude Martins.

sábado, 17 de novembro de 2012

Começar de novo


Por Richard José Vasques

Quando falamos em começar de novo, dá a impressão que esperamos alguma coisa chegar ao final, para daí recomeçarmos. É uma forma de se pensar nesse assunto. Por outro lado, geralmente quando se chega ao final de uma tarefa ou de um projeto, começa-se outra tarefa ou projeto. Nós não fazemos a repetição deles. Às vezes começamos realmente desde o início novamente. Um exemplo disso é quando estamos trabalhando num texto no computador, e por descuido ou falta de hábito, não salvamos o trabalho em andamento e acabamos perdendo-o por alguma pane ou operação indevida. Aí sim teremos de começar de novo; fazer tudo novamente. Quanto desgaste isso traz!

Se olharmos para nossas vidas, considerando que cada dia é um dia, e que não sabemos se haverá um novo dia, ao iniciarmos um novo dia podemos dizer que estamos começando de novo: a nossa vida. Com esse foco, o ideal é que nosso dia seja bastante agradável e produtivo, mas nem sempre é assim. Quantas vezes gastamos nosso tempo em atividades e ações que não agregam nada à nossa vida nem à vida das pessoas que nos cercam, ou com as quais nos relacionamos. Como fazer então para o nosso dia ser produtivo e agradável? Creio que cada um tem a sua receita, apesar de muitas vezes não ser possível aplicá-la.

Estou lendo um livro de autoria de John Maxwell, intitulado “O Líder 360º”. Num trecho do livro, ele comenta sobre uma prática adotada pelo General aposentado do Exército Americano, Tommy Franks, que criou uma disciplina de olhar e se preparar para o intangível. Todos os dias de sua carreira, desde 23/02/88, ele começava o seu trabalho planejando o dia. Para isso ela respondia à seguinte pergunta: “Quais são os maiores desafios que posso enfrentar hoje?” em um cartão para aquele dia. Na parte de baixo do cartão ele escrevia os cinco problemas mais importantes que poderia enfrentar e na parte de trás do cartão, as oportunidades que poderiam aparecer naquele dia.

Todas as manhãs, desde aquele dia, ele anotava os Desafios e Oportunidades que poderiam surgir em cada dia. O General disse que o importante não é o cartão em si, mas preparar-se para cada dia. Preparar-se para começar de novo. Cada dia, um recomeço. Podemos ainda pensar em fases da nossa vida. De repente em determinada fase as coisas não estão acontecendo como gostaríamos que acontecesse. O que podemos fazer de diferente para nos ajustarmos à nova realidade? Fazer diferente. Esse é realmente um desafio. Nossa tendência é pensar que só sabemos ou podemos fazer aquilo que estamos acostumados a fazer.

Nova visão a cada dia. Novos focos, ou reforço de algo que precisa de continuidade. John Maxwell citou também um comentário da Psicóloga Joyce Brothers: “Confie nos seus palpites”. Quanto mais você concentra sua atenção no que é intangível, mas aguçada ficará a sua intuição. Estar aberto a tudo o que é novo, a perceber as oportunidades, a “sentir” os seus palpites. Intangíveis: coisas que não podemos quantificar ou mensurar num primeiro momento, mas que podem trazer grandes resultados.

Novos resultados somente com novas ações. Já foi dito que se você continua fazendo as mesmas coisas, no máximo você continuará obtendo os mesmos resultados. Se esses resultados são bons e as suas ações estão alinhadas a ele, OK. E se não forem bons? O que fazer? Mesmo obtendo bons resultados é importante pensar em aprimoramento das ações que estão levando àqueles resultados. Na cultura da qualidade ou da gestão, dizemos que aplicamos o ciclo PDCA (Planejar, Fazer, Controlar e Agir de forma corretiva sempre que necessário). Esse ciclo é também chamado de “Ciclo da Melhoria Contínua”.

Melhorar sempre. Às vezes a melhoria tem a ver com redução de ritmo para se processar os ajustes necessários. O desafio é conciliar esse tempo, essas novas ações, com os compromissos vigentes. Penso que o cartão do General Tommy Franks pode nos ajudar a criar essa cultura, de recomeçar a cada dia. Pensar nos desafios e oportunidades e estabelecer ações planejadas para enfrentá-los e buscá-las, respectivamente.

Num dos trechos do Sermão do Monte, Jesus diz assim: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”. (Mateus 6:34). Não estar inquieto com o próximo dia, mas parar para avaliar como ele pode ser mais produtivo e agradável, trazendo resultado para a nossa vida e para a vida dos nossos semelhantes. Apesar de todos os planos, as coisas ainda podem acontecer de forma diferente do planejado. O Rei Salomão nos lembrou disso: “muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor”. (Provérbios 19.21).

Então nos cabe, ao preenchermos nosso cartão modelo Tommy Franks, perguntar ao Senhor qual é o propósito dele para o nosso dia. Que o propósito do seu dia agrade ao Senhor. Boa semana.

E-mail: rjv@rjv.com.br Website: www.rjv.com.br

sábado, 10 de novembro de 2012

Deus,esse desconhecido conhecido


Por Leonardo Boff

Nos dias 5 e 6 de outubro em Assis realizou-se mais uma edição do “Átrio dos Gentios”, iniciativa do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano, voltada para a questão de Deus. O Presidente da Itália, Giorgio Napolitano e o Card. Gianfranco Ravasi, à frente do Conselho e famoso exegeta bíblico, fizeram um diálogo instigante sobre “Deus, esse desconhecido”.

Com o “Átrio dos Gentios” faz-se um esforço de levar ao diálogo crentes e não crentes. O Átrio era o espaço ao redor do templo de Jerusalém acessível aos gentios (pagãos) que, de resto, jamais poderiam de entrar no templo. Agora procura-se tirar os interditos para que todos possam aceder ao templo.

A este propósito me permito uma reflexão que me acompanha ao largo de toda a vida de teólogo: pensar Deus para além das objetivações religiosas (metafísicas) e procurar interpretá-lo como Mistério sempre desconhecido e, ao mesmo tempo, sempre conhecido.
Por que este caminho? Einstein nos oferece uma pista: ”o homem que não tem os olhos abertos para o Mistério passará pela vida sem nunca ver nada”.

Efetivamente, para onde quer que dirijamos o olhar, para o grande e para o pequeno, para fora e para dentro, para o alto e para o baixo, para todos os lados, encontramos o Mistério. O Mistério não é o desconhecido. É o conhecido que nos fascina e nos atrai para conhecê-lo mais e mais. Ao tentar conhecê-lo, percebemos que nossa sede e fome de conhecimento nunca se sacia. No mesmo momento em que O conhecemos, Ele se nos escapa na direção do desconhecido. Perseguimo-lo sem cessar e mesmo assim Ele fica sempre Mistério em todo o conhecimento, causando-nos atração invencível, temor profundo e reverência irresistível. O Mistério simplesmente é.

Minha tese de base é esta: no princípio era o Mistério. O Mistério era Deus. Deus é o Mistério. Deus é Mistério para nós e para Si mesmo.

É Mistério para nós na medida em que nunca acabamos de conhecê–Lo nem pela razão nem pelo amor. Cada encontro deixa uma ausência que leva a outro encontro. Cada conhecimento abre outra janela para um novo conhecimento. O Mistério de Deus não é o limite do conhecimento mas o ilimitado do conhecimento. É o amor que não conhece repouso. O Mistério não cabe em nenhum esquema nem vem aprisionado nas malhas de alguma religião, Igreja ou doutrina. Ele está sempre por ser conhecido.

O Mistério é uma Presença ausente. Mas também, uma Ausência presente. Manifesta-se na nossa absoluta insatisfação que incansavelmente e em vão busca satisfação. Neste transitar entre Presença e Ausência se realiza o ser humano, trágico e feliz, inteiro mas inacabado.

Deus é Mistério em si mesmo e para si mesmo. Deus é Mistério em si mesmo porque sua natureza é Mistério. Vale dizer: Deus enquanto Mistério se autoconhece e no entanto nunca tem fim seu autoconhecimento. O conhecimento de sua natureza de Mistério é cada vez inteiro e pleno e, ao mesmo tempo, sempre aberto para nova plenitude, ficando sempre Mistério, eterno e infinito para si mesmo. Se assim não fosse, não seria o que é: Mistério. Portanto, Ele é um absoluto Dinamismo sem limites.

Deus é Mistério para si mesmo quer dizer: por mais que Ele se autoconheça nunca esgota este seu conhecimento. Está aberto a um futuro que é realmente futuro. Portanto, algo que ainda não é dado, mas que pode se dar como novo para Ele mesmo. Com a encarnação Deus começou a ser aquilo que antes não era. Portanto, em Deus há um devir, um tornar-se.

Mas o Mistério, por um dinamismo intrínseco, permamentemente se revela e se autocomunica. Sai de si e conhece e ama o novo que emerge dele. O que vai se emergir não é reprodução do mesmo. Mas sempre distinto e novo, também para Ele. À diferença do enigma que, conhecido, se desfaz, o Mistério quanto mais conhecido mais aparece como desconhecido, quer dizer, como Mistério que convida para mais conhecimento e para maior amor.

Dizer Deus-Mistério é expressar um dinamismo sem resto, uma vida sem entropia, uma irrupção sem perda, um devir sem interrupção, um eterno vir-a-ser sempre sendo e uma beleza sempre nova e diferente que jamais fenece. Mistério é Mistério, agora e sempre, desde toda a eternidade e por toda a eternidade.

Diante do Mistério se afogam as palavras, desfalecem as imagens e morrem as referências. O que nos cabe é o silêncio, a reverência, a adoração e a contemplação.
Estas são as atitudes adequadas ao Mistério.

Assumindo tal compreensão, se derrubam todos os muros. Já não haverá mais o Atrio dos Gentios e tambem não existirá mais templo, porque Deus não tem religião. Ele é simplesmente o Mistério que liga e re-liga tudo, cada pessoa e o inteiro universo. O Mistério nos penetra e nEle estamos mergulhados.

Leonardo Boff é autor de Experimentar Deus: a transparência de todas as coisas, Vozes 2002.
Publicado em http://leonardoboff.wordpress.com/ em 16/10/2012

sábado, 3 de novembro de 2012

Sofrimento


Por Ed René Kivitz

Publicado em 05 de Junho de 2012 (http://edrenekivitz.com/blog/)

"Aceitar a realidade e inevitabilidade do sofrimento é escolher a vida, decidir amar, optar pela plenitude, apostar na fé."

O sofrimento pode ser o caminho através do qual chegamos às nossas verdades. A estrada pela qual chegamos à maturidade atravessa, necessariamente, a escuridão e a solidão. A escuridão, porque sofrer implica perder as referências, desdenhar das explicações, questionar os clichês e aventurar perguntas. A escuridão é o momento quando não caminhamos porque vemos, mas porque intuímos, recordamos e temos fé. Intuímos o rumo certo pelo tanto que já caminhamos, recordamos as experiências aprendidas em momentos semelhantes no passado e andamos por fé, que supera as trevas, prescinde de explicações e transcende as certezas.

A solidão é imprescindível na trilha do sofrimento. A dor pode ser compartilhada, mas jamais transferida. Pode ser percebida, mas não capturada. Pode até ser escondida, mas nunca suprimida. Quem sofre, sofre sempre em solidão. Não necessariamente porque lhe falta boa e providencial companhia, mas porque todo sofrimento pessoal, em sua dimensão mais profunda e essencial, é intransferível. O sofrimento tem sua realidade particular, e não pode ser diferente: cada um sofre por uma razão, é vitimado em áreas distintas, por motivos diversos e com respostas as mais variadas, num dégradé de resiliência que vai da meninice do chororô ao heroísmo quase estóico, incluído entre os tons das cores a grandeza da fé, resignada e esperançosa, e por isso engajada e mobilizadora.

O sofrimento desperta para o ético e o estético. Convoca virtudes adormecidas a que subam ao palco: coragem, perseverança, paciência, honradez, respeito à vida. Possibilita o lapidar do caráter, apara arestas, harmoniza as formas, faz irromper a beleza escondida na frieza do coração. O sofrimento quebranta orgulhosos, vaidosos e prepotentes, faz desmoronar intransigentes, legalistas e moralistas. Como o martelo do escultor, retira os excessos da pedra e dá à luz o belo, o sublime, o deslumbrante.

Quem sofre descobre seus limites, identifica verdadeiras amizades, vislumbra novos horizontes, abre a mente para novas verdades e o coração para novos amores. O sofrimento produz compaixão, evoca misericórdia, gera solidariedade. O sofrimento cria caminhos para arrependimentos e confissões, subverte juízos e sentenças, possibilita aproximações e reconciliações.

O sofrimento coloca homens, mulheres, velhos e crianças, de joelhos. Faz com que os olhos procurem os céus. Dilata a alma para o mistério, conclama o espírito para o inefável, inspira poesias e canções, faz surgir nos lábios o perfeito louvor. Quem sofre aprende a perdoar e pedir perdão. Ganha a oportunidade de colocar o rosto no chão, em clamor e oração. O sofredor jamais chora em vão. Deus habita também a sombra e a escuridão.

O sofrimento é o ônus do viver, o custo do amor, a paga pelo crescimento, o preço da maturidade. Viver é muito perigoso, já dizia Guimarães. Amar é muito precioso. Crescer é muito doloroso. Amadurecer é muito custoso. Crer é coisa de teimoso. O sofrimento diminui o poder da morte, dissolve a crueldade da indiferença, envergonha a pequenez da alma, desmascara o mundo de mentirinha da ingênua infância, quebra a maldição da incredulidade. Aceitar a realidade e inevitabilidade do sofrimento é escolher a vida, decidir amar, optar pela plenitude, apostar na fé.

Fonte: Ed René
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