segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Terá valido a pena o Natal?

por Israel Belo de Azevedo

Se houve no plano internacional
um tempo em que as armas repousaram inúteis.
Se também no plano pessoal
meu coração tiver descansado
de tantas batalhas: as necessárias e as fúteis.

Se diante do presépio tão surreal
que mistura gente com animal todo falante
eu tiver tido uma atitude de humildade tal
como se nada, nada mesmo, dependesse
dos joelhos que se vergam
por um instante.

Se minha alma elevou ao sideral
para um canto que me soou como divinal louvor.
Se meus olhos viram como igual
aquele que na esquina e no chão gelado
de mim não esperava palavras mas amor.

Se meus múltiplos desejos de “feliz natal”
forem inspirados de modo real
por Jesus Cristo
e eu recebi cada gesto facial
e ofereci todo sorriso trocado
mesmo expressos na superfície
como um compromisso.

Se o Salvador por um momento
se pareceu como o que é:
meu Senhor companheiro amigo.
Se todo o verbo que eu dito tiver
for uma afirmação de fé
que por um dia habite comigo

terá valido a pena mais este Natal.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma história de Natal

por Israel Belo de Azevedo

Príncipe tem cara de príncipe.
Rei tem aquele jeito de rei.
Não o meu, da história que contarei.

Príncipe nasce em palácio.
Tem um lindo berço de ouro o rei.
Não o meu, na história que contarei.

Se eu nascesse onde Ele nasceu
a ninguém eu contaria.
E você também não diria
se nascesse onde Ele seu primeiro choro deu.

Nosso príncipe, depois, quando saiu de casa,
para fazer o que tinha que fazer,
não tinha cama, mas seu pai era carpinteiro
e, quantas camas quisesse, podia fazer
e quando tinha cama, não tinha travesseiro.
“Ai que saudade da mamãe”, devia Ele dizer,
pois ela tudo cuidava com todo esmero.

Mas quero falar mesmo do príncipe pequeno
Não do príncipe já crescido, mas do infante.
Preciso começar com a história de sua mãe
que começa com a história de um anjo falante.

Ela estava em casa. Todos tinham saído.
Ela estava no seu quarto. Ai que silêncio.
Então, o anjo de boas notícias se aproximou.
Eu disse o nome dele? Então, vá: Gabriel.
Maria pensou que fosse um castigo do céu,
mas do céu sempre vem notícias para o nosso bem.
E desta vez não foi diferente, e o anjo falou
que, para a alegria de todos, ela teria um neném,
porque para Deus não existe a palavra “impossível”.
Falou e se foi, deixando a moça cantando
feliz por aquilo que do anjo escutou.

E grávida ela ficou. Perto do neném nascer,
a barriga pesando, uma viagem tiveram que fazer
a mãe montada num jumentinho, saindo de Nazaré,
para ordens do governo obedecer.

José foi junto. Não fugiu à responsabilidade
Chegaram os dois, quer dizer os três,
a Belém – este é o nome da cidade –
só para entregar seus documentos de identidade.

A cidade estava cheia, com tanto turista
por causa da ordem que o governo tinha dado.
José bateu em muitas portas,
umas com placas certas e outras com placas tortas
em busca de um lugar para se hospedar
E diante de cada um tinha sempre que escutar:
– Desculpe, amigo, nosso hotel está lotado.

Foi quando viram uma placa de hotel simplezinho
e entraram, como se fossem descansar.
Simpático, o moço daquela estrebaria
disse que vaga pros dois também não havia.

Apareceu uma mulher, vendo a difícil situação
e chamou os dois para os fundos da pensão,
onde os animais ficavam perto de uma manjedoura
que podia servir de berço se não importassem
com a condição,
quando do nascimento do filho mais velho
chegasse a hora.

Eles cumpriram com o seu dever,
mas Maria estava pesada para voltar a Nazaré.
Podia ser perigoso para o bebê.

Resolveram esperar em Belém.
Maria começou a sentir as dores que as mulheres têm.
Ela gemeu:
– Ai, José, a hora está para chegar.
Não seria melhor um hospital procurar?
Mas naquela cidade não havia hospital.

E rápido atravessaram o esperado portal
da única estrebaria em que puderam se hospedar.

José reclamou, enquanto Maria gemia:
– Meu filho não pode mais aguardar.
Ele vai nascer aqui mesmo nesta portaria
e uma cama pra ele temos que arranjar.

E rápido arrumou as roupas no chão
porque não havia mesmo outra solução.

E a dor aumentava, aumentava, aumentava.
Maria pensou nas palavras de Gabriel:
onde estava o anjo que não a ajudava?

Fizeram o melhor que puderam e Maria descansou,
mas foi por alguns minutos, pois a dor aumentou.
Maria em silêncio. Ela chorou de medo e dor.
Mas de novo se lembrou do que o anjo lhe falou.
José segurou as suas mãos. A mulher ajudou.
Era noite e o silêncio quase nada durou.
De repente, um choro alto se escutou.
– É um menino – José mais alto gritou.
Então, agora de alegria, Maria novamente chorou.
E das palavras do anjo Maria outra vez recordou.

E assim, olhando para o menino no
colo, adormeceu.
Depois da agitação, a calma se restabeleceu.
E o silêncio voltou.
Os animais se calaram.
O porteiro cochilava.
José, porém, a tudo vigiava.

De repente, lá fora a correria.
Acabou a calma na estrebaria.
Parece que a noite virou dia.
José acordou Maria.
– Estou ouvindo uma gritaria.
Parecem pastores, mas o que aqui fariam?

Entrou o homem da portaria,
pedindo se podiam chegar os visitantes.
– Quem são? – perguntou José, hesitante.
– São os guardas dos animais do campo.
Querem ver o menino que nasceu há instantes.

Maria se lembrou do anjo Gabriel:
– Deixem que entrem para ver o menino.

Entraram com as roupas cobertas de neblina.
Ficaram encantados. Tudo conferia com a voz do céu.

Voz do céu. Que voz do céu? Não custa perguntar.
José perguntou:
– Como souberam que meu filho nasceu?

Um deles logo respondeu, porque era o mais agitado:
– Ouvimos uma voz do céu, que dizia:
“Hoje em Belém finalmente nasceu o Messias.
Ele está numa manjedoura agora deitado”.
Depois um coro de anjos deixou uma canção:
“Nas alturas dêem a Deus toda a glória,
e na terra anunciem de todo o coração
a paz que Ele quer que alcance a história”.

Depois da visita, todos saíram. Eles gritavam.
As palavras do anjo ainda ecoavam
porque todas se confirmavam.
É por isto que “glórias a Deus” davam
e pelas ruas a sua alegria cantavam.

Enquanto José em tudo prestava atenção,
Maria tudo guardava no coração.

E os pastores não foram os únicos a receber
a notícia
de que em Belém um príncipe nascido havia.
José não soube então; Maria não soube então,
mas muito, muito, muito longe daquela estrebaria,
uns cientistas foram informados por
divina instrução
que em Belém um grande príncipe nasceria.
E começaram uma viagem que muito tempo levaria.

Em Belém, uma semana se passou e tudo corria bem.
Logo um mês se passou e tudo corria muito bem.
Era chegada a hora de irem a Jerusalém,
para apresentarem na igreja o neném.

E lá estava um velhinho chamado Simeão.
Quando viu o menino, deu um grito de satisfação:
– Oh! bondoso Deus, meus olhos viram a salvação
que enviaste depois de tanta preparação.

Na frente de todos, levantou a mão
e ofereceu o menino a sua bênção.
E lá estava também Ana, uma mulher de oração,
que também apresentou a sua gratidão
porque também tinha tido a mesma emoção.

Depois do culto, a família voltou para casa.
Ia começar uma outra dura viagem.
Aqueles cientistas lá de longe – lembra-se? –
depois de muita pesquisa, chegaram a Belém,
com muitos presentes na bagagem.
Passaram por deserto e oceano,
sem aviões e sem navios
por montanhas e rios,
sem ônibus e sem trem.
Tinham apenas um plano:
Visitar um rei e lhe fazer uma homenagem.
Enquanto isto, apavorado, em Jerusalém,
o rei do país esperava que eles o caminho
lhe ensinasse para que pudesse pegar o neném.
Mas eles foram por outra direção para o oriente.
O rei era mesmo muito feroz.
Por isto, depois de ouvirem de Deus a voz,
fugiram, de noite, no maior segredo,
em meio a muitas lágrimas de medo,
para um lugar seguro, mas bem distante
onde não lhes podia alcançar o valente.

E ali ficaram até o dia de voltar para Nazaré,
onde ficava a casa e a carpintaria de José.
E ali o menino crescia e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria
porque a graça de Deus nele residia.
E tudo no seu coração guardava Maria.

Como todo menino, este menino cresceu
e um homem adulto se tornou.
Seu tempo de partir nasceu
para fazer aquilo para o qual se preparou.

E eu vou lhe contar
o que este Amigo sempre Maravilhoso,
este Deus muito Poderoso,
este Pai eternamente Amoroso
e este Príncipe Valoroso,
– este é o nome completo de Jesus –
fez, pelo mundo afora,
para a nossa história se encerrar...
mas, calma! Espere. Não será agora
que a melhor aventura vai começar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Natal no complexo do Alemão


Por Ronaldo Martins

Na semana passada os brasileiros acompanharam pela TV a operação militar que a imprensa chamou de “guerra contra o tráfico”. Pouco se falou sobre o fato de que, durante décadas, a população do conjunto de comunidades do Complexo do Alemão viveu abandonada à própria sorte, sem a presença e o apoio do Estado. O que se destacou foi o fato de que, triunfalmente, a polícia e as Forças Armadas “libertaram a população do jugo dos traficantes”.

A cinematográfica “libertação” demonstrou o que todos sabemos: se há “vontade política”, o Estado pode ter êxito na promoção do bem comum.

Mas de que tipo de libertação nós precisamos? A que provém da vontade ou a que provém da esperança? Essa questão me veio à mente enquanto assistia, estarrecido, à “guerra urbana” no Rio de Janeiro, em pleno domingo de Advento.

O que distingue a vontade da esperança? Segundo Sponville, “a esperança é um desejo que se refere ao que não depende de nós; a vontade é um desejo que se refere ao que depende de nós”. Corroborando com o que afirma o filósofo, eu diria que a esperança da libertação proposta no Reino de Jesus Cristo se funda em uma novidade de vida que não depende de nós mesmos, mas da graça de Deus.

É bom que os moradores do Complexo do Alemão tenham sido libertados da opressão imposta pelos traficantes. Mas devemos ter claro em nossas mentes que eles ainda não receberam o verdadeiro presente de Natal. Apenas tiveram paga uma dívida que poderia ter sido quitada há muito tempo se houvesse vontade.

Que a esperança resista no coração daquela comunidade e que as famílias do Alemão continuem ansiando a libertação definitiva, aquela que foi assim descrita pelo profeta Isaías: “ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente”. (Isaías 45:13)

A liberdade apregoada no tempo do advento é aquela que se estabelece como direito de todos os cidadãos do Reino de Deus. É a liberdade que nasce da esperança de que o Senhor está no controle das nossas vidas. É a liberdade que não depende da nossa própria vontade. É a liberdade que advém da verdade, nos guiando para o caminho no qual a presença de Jesus Cristo é definitiva.

Neste tempo de Advento podemos cultivar nossas vontades ou nossa esperança. Na última segunda-feira, a Federação do Comércio divulgou uma pesquisa demonstrando que o índice de otimismo dos consumidores de Belo Horizonte bateu o recorde histórico. Segundo a pesquisa, todos querem consumir como nunca no próximo Natal. Essa é uma vontade que depende apenas de nós. Mas, com certeza, é a maneira menos adequada de esperar pelo Natal.

Talvez devamos aceitar o desafio de reconstituir o sentido do Advento como um tempo de esperança. Podemos e precisamos cultivar a esperança de que o Natal represente, a cada ano, um recomeço, o despertar de um novo dia, no qual ganhamos força para lutar pela transformação definitiva da sociedade e do ser humano.

Quais são as imagens que lhe vêm à mente quando você pensa no Natal? Quais são os desejos que você cultiva? Se eles se referem apenas a prazeres passageiros, como presentes e ceias fartas, são mera vontade humana. Se remetem você ao sentimento de que um mundo novo é possível a partir da libertação preconizada no Reino de Deus, os seus desejos estão revestidos da esperança do Natal.

Feliz Natal para os moradores do Complexo do Alemão!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Porque Jesus não anda com os fariseus.

Por Ariovaldo Ramos,

Lucas, no capítulo 15 de seu livro, registra um diálogo entre Jesus e os fariseus, que reclamavam do fato de Jesus receber e comer com publicanos.

A queixa deles fazia sentido: os publicanos eram gente que havia traído Israel e se tornado cobrador de impostos para os romanos. Eram como os que, na segunda guerra mundial, colaboraram com os nazistas que haviam invadido o seu próprio país.

Para os fariseus, o que faria sentido seria Jesus andar com eles, afinal, entre eles e Jesus, havia mais concordância doutrinária do que entre Jesus e qualquer outro partido judaico.

Jesus respondeu-lhes contando três parábolas: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido.

Parábola é uma “estória” com fundo moral, para destacar um ensino.

Nessas três parábolas Jesus explica aos fariseus porque não andava com eles.

Na parábola da ovelha perdida, Jesus pergunta: Que pastor, tendo cem ovelhas, ao perder uma, não deixa no DESERTO as noventa e nove e sai à procura da perdida, e, quando a encontra, vai direto para casa para festejar com os amigos?

A resposta para essa pergunta é: nenhum pastor faria isso, pois perderia as noventa e nove, e tudo o que teria seria a ovelha perdida, se a encontrasse. A menos que estivesse abandonando as noventa e nove.

Era isso que Jesus estava a fazer, abandonando as noventa e nove. As noventa e nove ovelhas representavam os fariseus.

Jesus explica tê-los abandonado porque há mais alegria por um pecador arrependido, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.

Por que Deus não ficaria alegre com noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, se, como disse o salmista: Deus conhece o caminho dos justos? (Sl 1.6)

Porque justos são os que sempre se arrependem e não os que se julgam não necessitados de arrependimento.

Os fariseus eram assim, se julgavam justos que não precisavam de arrependimento, mas Jesus os denunciava por serem justos aos seus próprios olhos, mas não justificados por Deus (Lc 18.11-14)

Na parábola da moeda perdida, Jesus diz que ele é como a mulher que, tendo perdido uma dracma (salário de um dia de trabalho), revira toda a casa até encontrá-la, e, ao encontrá-la, chama vizinhas e amigas e faz uma festa.

A casa é Israel, e o que é revirado é tudo o que os fariseus, por conta própria, chamaram de sagrado, e que só servia para passar uma imagem falsa de Deus, afastando os homens da possibilidade do arrependimento. A dracma representava os publicanos.

Na parábola do filho perdido, Jesus concorda com os fariseus quanto aos publicanos: deixa claro que são pessoas que jogaram para o ar tudo o que tinham junto ao Pai, para viver dissolutamente, seduzidos pelos romanos, que, por fim, apenas lhes estavam oferecendo viver numa pocilga.

Mas o Pai jamais desistiu dos publicanos, mantendo-lhes aberta a porta do arrependimento.

Entretanto, os fariseus, a exemplo do irmão mais velho, não o admitiam. Entendiam-se como juízes de seus irmãos, não dando crédito ao arrependimento dos mesmos, até por julgá-los incapazes de tal ato.

Os fariseus, como o irmão mais velho, não conheciam, de fato, o Pai, e não o amavam; pior, entendiam que o Pai tinha uma dívida para com eles, por causa da fidelidade com que o serviam sem nada receber em troca. E, em não amando o Pai, não amavam a ninguém. E quem não ama não considera a possibilidade do arrependimento do outro.

Jesus, em muitos casos, podia até ter o mesmo enunciado que os fariseus, mas não tinha o mesmo coração.

E... Como disse o poeta e compositor Claudio Manhães: “Diferente é o coração, a diferença é o coração!”

A boa doutrina tem de, necessariamente, gerar um bom coração, senão será, mesmo que correta, um enunciado vazio, por não ter frutificado no coração de quem a prega.

©ariovaldoramos
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