domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma história de Natal

por Israel Belo de Azevedo

Príncipe tem cara de príncipe.
Rei tem aquele jeito de rei.
Não o meu, da história que contarei.

Príncipe nasce em palácio.
Tem um lindo berço de ouro o rei.
Não o meu, na história que contarei.

Se eu nascesse onde Ele nasceu
a ninguém eu contaria.
E você também não diria
se nascesse onde Ele seu primeiro choro deu.

Nosso príncipe, depois, quando saiu de casa,
para fazer o que tinha que fazer,
não tinha cama, mas seu pai era carpinteiro
e, quantas camas quisesse, podia fazer
e quando tinha cama, não tinha travesseiro.
“Ai que saudade da mamãe”, devia Ele dizer,
pois ela tudo cuidava com todo esmero.

Mas quero falar mesmo do príncipe pequeno
Não do príncipe já crescido, mas do infante.
Preciso começar com a história de sua mãe
que começa com a história de um anjo falante.

Ela estava em casa. Todos tinham saído.
Ela estava no seu quarto. Ai que silêncio.
Então, o anjo de boas notícias se aproximou.
Eu disse o nome dele? Então, vá: Gabriel.
Maria pensou que fosse um castigo do céu,
mas do céu sempre vem notícias para o nosso bem.
E desta vez não foi diferente, e o anjo falou
que, para a alegria de todos, ela teria um neném,
porque para Deus não existe a palavra “impossível”.
Falou e se foi, deixando a moça cantando
feliz por aquilo que do anjo escutou.

E grávida ela ficou. Perto do neném nascer,
a barriga pesando, uma viagem tiveram que fazer
a mãe montada num jumentinho, saindo de Nazaré,
para ordens do governo obedecer.

José foi junto. Não fugiu à responsabilidade
Chegaram os dois, quer dizer os três,
a Belém – este é o nome da cidade –
só para entregar seus documentos de identidade.

A cidade estava cheia, com tanto turista
por causa da ordem que o governo tinha dado.
José bateu em muitas portas,
umas com placas certas e outras com placas tortas
em busca de um lugar para se hospedar
E diante de cada um tinha sempre que escutar:
– Desculpe, amigo, nosso hotel está lotado.

Foi quando viram uma placa de hotel simplezinho
e entraram, como se fossem descansar.
Simpático, o moço daquela estrebaria
disse que vaga pros dois também não havia.

Apareceu uma mulher, vendo a difícil situação
e chamou os dois para os fundos da pensão,
onde os animais ficavam perto de uma manjedoura
que podia servir de berço se não importassem
com a condição,
quando do nascimento do filho mais velho
chegasse a hora.

Eles cumpriram com o seu dever,
mas Maria estava pesada para voltar a Nazaré.
Podia ser perigoso para o bebê.

Resolveram esperar em Belém.
Maria começou a sentir as dores que as mulheres têm.
Ela gemeu:
– Ai, José, a hora está para chegar.
Não seria melhor um hospital procurar?
Mas naquela cidade não havia hospital.

E rápido atravessaram o esperado portal
da única estrebaria em que puderam se hospedar.

José reclamou, enquanto Maria gemia:
– Meu filho não pode mais aguardar.
Ele vai nascer aqui mesmo nesta portaria
e uma cama pra ele temos que arranjar.

E rápido arrumou as roupas no chão
porque não havia mesmo outra solução.

E a dor aumentava, aumentava, aumentava.
Maria pensou nas palavras de Gabriel:
onde estava o anjo que não a ajudava?

Fizeram o melhor que puderam e Maria descansou,
mas foi por alguns minutos, pois a dor aumentou.
Maria em silêncio. Ela chorou de medo e dor.
Mas de novo se lembrou do que o anjo lhe falou.
José segurou as suas mãos. A mulher ajudou.
Era noite e o silêncio quase nada durou.
De repente, um choro alto se escutou.
– É um menino – José mais alto gritou.
Então, agora de alegria, Maria novamente chorou.
E das palavras do anjo Maria outra vez recordou.

E assim, olhando para o menino no
colo, adormeceu.
Depois da agitação, a calma se restabeleceu.
E o silêncio voltou.
Os animais se calaram.
O porteiro cochilava.
José, porém, a tudo vigiava.

De repente, lá fora a correria.
Acabou a calma na estrebaria.
Parece que a noite virou dia.
José acordou Maria.
– Estou ouvindo uma gritaria.
Parecem pastores, mas o que aqui fariam?

Entrou o homem da portaria,
pedindo se podiam chegar os visitantes.
– Quem são? – perguntou José, hesitante.
– São os guardas dos animais do campo.
Querem ver o menino que nasceu há instantes.

Maria se lembrou do anjo Gabriel:
– Deixem que entrem para ver o menino.

Entraram com as roupas cobertas de neblina.
Ficaram encantados. Tudo conferia com a voz do céu.

Voz do céu. Que voz do céu? Não custa perguntar.
José perguntou:
– Como souberam que meu filho nasceu?

Um deles logo respondeu, porque era o mais agitado:
– Ouvimos uma voz do céu, que dizia:
“Hoje em Belém finalmente nasceu o Messias.
Ele está numa manjedoura agora deitado”.
Depois um coro de anjos deixou uma canção:
“Nas alturas dêem a Deus toda a glória,
e na terra anunciem de todo o coração
a paz que Ele quer que alcance a história”.

Depois da visita, todos saíram. Eles gritavam.
As palavras do anjo ainda ecoavam
porque todas se confirmavam.
É por isto que “glórias a Deus” davam
e pelas ruas a sua alegria cantavam.

Enquanto José em tudo prestava atenção,
Maria tudo guardava no coração.

E os pastores não foram os únicos a receber
a notícia
de que em Belém um príncipe nascido havia.
José não soube então; Maria não soube então,
mas muito, muito, muito longe daquela estrebaria,
uns cientistas foram informados por
divina instrução
que em Belém um grande príncipe nasceria.
E começaram uma viagem que muito tempo levaria.

Em Belém, uma semana se passou e tudo corria bem.
Logo um mês se passou e tudo corria muito bem.
Era chegada a hora de irem a Jerusalém,
para apresentarem na igreja o neném.

E lá estava um velhinho chamado Simeão.
Quando viu o menino, deu um grito de satisfação:
– Oh! bondoso Deus, meus olhos viram a salvação
que enviaste depois de tanta preparação.

Na frente de todos, levantou a mão
e ofereceu o menino a sua bênção.
E lá estava também Ana, uma mulher de oração,
que também apresentou a sua gratidão
porque também tinha tido a mesma emoção.

Depois do culto, a família voltou para casa.
Ia começar uma outra dura viagem.
Aqueles cientistas lá de longe – lembra-se? –
depois de muita pesquisa, chegaram a Belém,
com muitos presentes na bagagem.
Passaram por deserto e oceano,
sem aviões e sem navios
por montanhas e rios,
sem ônibus e sem trem.
Tinham apenas um plano:
Visitar um rei e lhe fazer uma homenagem.
Enquanto isto, apavorado, em Jerusalém,
o rei do país esperava que eles o caminho
lhe ensinasse para que pudesse pegar o neném.
Mas eles foram por outra direção para o oriente.
O rei era mesmo muito feroz.
Por isto, depois de ouvirem de Deus a voz,
fugiram, de noite, no maior segredo,
em meio a muitas lágrimas de medo,
para um lugar seguro, mas bem distante
onde não lhes podia alcançar o valente.

E ali ficaram até o dia de voltar para Nazaré,
onde ficava a casa e a carpintaria de José.
E ali o menino crescia e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria
porque a graça de Deus nele residia.
E tudo no seu coração guardava Maria.

Como todo menino, este menino cresceu
e um homem adulto se tornou.
Seu tempo de partir nasceu
para fazer aquilo para o qual se preparou.

E eu vou lhe contar
o que este Amigo sempre Maravilhoso,
este Deus muito Poderoso,
este Pai eternamente Amoroso
e este Príncipe Valoroso,
– este é o nome completo de Jesus –
fez, pelo mundo afora,
para a nossa história se encerrar...
mas, calma! Espere. Não será agora
que a melhor aventura vai começar.

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