sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Decisões que Transformam Vidas


Por Ronaldo Lidório.

Publicado em http://www.ronaldo.lidorio.com.br

A Bíblia está repleta de iniciativas e decisões que mudaram a vida de pessoas, países e gerações. Algumas foram complexas - como peregrinar por um deserto, empreender uma guerra ou enfrentar um gigante -, outras foram mais simples - como parar ao longo de um caminho para ajudar um homem caído. Foram, porém, decisões transformadoras.

Erramos ao pensar que as decisões são tomadas com base em nossa vontade. Apesar de a vontade exercer um papel fundamental em nossas vidas, frequentemente ela não se mostra forte o suficiente para nos guiar em uma decisão acertada e transformadora.

Quantas vezes tivemos sincera vontade de fazer algo notadamente de grande importância e não o fizemos? Decisões são mais frequentemente tomadas com base em nossos princípios - aquilo que determina o que cremos, que resume o nosso sentido de vida e nos impulsiona a fazer o improvável.

Lucas, no capítulo 10, apresenta-nos quatro personagens distintos na estrada entre Jerusalém e Jericó: um necessitado caído à margem da estrada, um sacerdote, um levita e, por fim, um samaritano. É nesta pequena história que encontramos o reflexo da nossa própria humanidade: virtudes a serem celebradas e o natural engano do coração que nos impede de ver o mundo com os olhos do Pai.

O sacerdote e o levita possuíam uma função para a qual foram chamados. Eram homens separados para o serviço do Reino e ocupados com as coisas do Reino. Possuíam um salário e também um público que esperava que cumprissem suas funções. Eram os homens do culto, das celebrações e das cerimônias religiosas. Estavam, porém, tão absortos no cumprimento da própria agenda que perderam de vista o motivo da vocação. Eles se esqueceram de que pessoas são mais importantes que coisas, que uma alma vale mais que o mundo inteiro.

Em uma sociedade ativista, consumista e hedônica, como a nossa, talvez este seja nosso maior desafio: perceber aqueles que estão caídos, enquanto seguimos apressados para o próximo compromisso. Jesus repetidamente ensinou aos seus discípulos que eles deveriam atentar para os órfãos, viúvas, encarcerados, enfermos, famintos, sedentos, excluídos e perdidos. Jesus, com isso, nos ensinou que devemos ter os olhos abertos para os que se encontram nas margens dos caminhos.

Não caía bem a um samaritano ajudar um judeu, opressor do seu povo. Seria ele visto como um entreguista, um colaborador do inimigo, ou mesmo um bajulador de Israel? Ajudar o inimigo não lhe traria aplausos. O certo é que ele estava disposto a sacrificar sua reputação tomando esta decisão transformadora: parar e ajudar a figura mais improvável.

Facilmente nos impressionamos com histórias, biografias e ministérios que não impressionam a Deus. Isso acontece porque nos comovemos com resultados visíveis, mensuráveis e que geram prestígio, bem como com processos ligados às multidões, holofotes e aplausos. Parece-me, porém, que no exemplo de Jesus – e do samaritano – o verdadeiro amor do Pai ocorre com frequência em lugares bem menos frequentados.
Lugares onde Jesus encontrou um cego próximo a Jericó, uma mulher samaritana ao lado de um poço e um coletor de imposto odiado pelo próprio povo. Deus vê o coração.
Talvez estejamos aplaudindo o sacerdote e o levita, que seguiam rápido, provavelmente para um grande culto, mas Deus se agradou do samaritano que parou.

Identidade é um elemento que contribui tremendamente para tomada de decisões diárias. Para aquele samaritano, sua história lhe dizia que aquele caído era seu inimigo e que este dia era o momento da revanche. Mas, parece-me que ele possuía uma imagem real de si mesmo, que ia além da história contada pelos seus pais, sua sociedade, seu sobrenome e seu contexto. Ele agiu como alguém que crê que sua identidade é definida por Deus. Ele não se viu naquele dia como um oponente, mas como um ajudador. Não enxergou o homem caído como um estranho distante, mas como o seu próximo.

Talvez a sua história lhe diga coisas tristes a seu respeito. Talvez seus pais, amigos, inimigos, os fatos da vida ou seu próprio inconsciente colaborem para construir em você uma autoimagem baixa demais, alta demais, ou simplesmente irreal. A Palavra nos diz, porém, que em Cristo temos uma nova identidade. Somos os amados do Pai, herdeiros com Cristo, vencedores em Deus, sal da terra e luz do mundo, criados para a Sua glória, alvos preferenciais do amor do Eterno. Somos mais que samaritanos opressos, somos filhos de Deus que podem ter os olhos abertos para os caídos ao longo do nosso caminho. A oração a ser repetida a cada dia, neste caso, é justamente esta: Senhor, abra os olhos do meu coração.

sábado, 20 de outubro de 2012

Eu escolho amar


por Emerson Leão

Publicado em 20/06/2012. www.irmaos.com


Ultimamente ando pensando sobre o amor entre duas pessoas, sobre como um casal de 70 anos faz para chegar até lá. Também andei pensando sobre a relação entre amar e merecer amar. Sempre tive uma ideia de que só quem ama outro ser sem este merecer é Jesus, que para se amar outra pessoa deve-se sim ter tolerância e respeito com certas coisas, e que bastariam algumas características do amado serem manifestas para tudo de ruim ser revelado. Até que um dia me deparei com a situação onde me perguntava: “o que que tô fazendo aqui?”. Não havia mais o porquê de amar.

As lembranças de lindos momentos juntos e uma certeza de que Deus estava no “negócio” me segurava, me impedia de dar um ponto final nessa história. De fato tudo entre nós sempre foi muito difícil, sempre tivemos que nos unir para enfrentarmos situações onde só a fé nos dava esperança. Tudo isso sempre nos tornava gratos por estarmos um com o outro, olhar para trás e ver como a união fez a força. Mas desta vez foi diferente, o problema de um era o outro.

Se eu falar que tudo explodiu repentinamente estarei mentindo. Eu sabia que em coisa boa não ia dar, mas em vez de declarar guerra, em vez de me revestir com a armadura de Efésios 6 para derrubar mais esse gigante, fechei os olhos, fui atrás de soluções momentâneas, sorrisos para maquiar a verdade em vez de choros para transformar a realidade. Com muito pesar eu digo que vi o cronômetro da bomba, dei meia volta e esperei detonar.

Mas ainda há tempo. Enquanto um de nós estiver vivo ainda haverá. Há alguma situação que torne o cristão impossibilitado? Pedro estava preso, prestes a morrer; a Igreja não podendo fazer nada, fez tudo: orou fervorosamente e as portas da prisão se abriram. Sempre tive mania de querer resolver as coisas com as minhas próprias mãos e não é desta vez que vou fazer diferente. Com as minhas mãos entregarei tudo a Deus. A ação mais sábia de um homem é deixar Deus agir.

Agora me pego na seguinte situação: por que tudo isso? Por que ir atrás de algo que pode não valer mais a pena? Não sei. Pode ser cegueira. Até cogitaria ser um daqueles desejos enganosos do coração, caso ele quisesse isso de fato, porém o que ele quer é que eu alimente a raiva e seja egoísta. Mas estou mais para o mandamento da Nova Aliança: "amarás o próximo como a ti mesmo”.

A grande lição que eu aprendi é que amar não é uma questão de motivo, é questão de escolha. Eu escolho amar.

sábado, 13 de outubro de 2012

Crianças -"Não as impeçais"!


Por Edvar Gimenes de Oliveira

Publicado em 20.07.12 - 89/100 dias de oração pelo Brasil

Crianças são seres humanos.
Em estágio de vida diferente dos adultos, mas seres humanos.
Responsabilidades diferentes dos adultos, mas seres humanos.
Reações diferentes dos adultos, mas seres humanos.

Isso parece óbvio, mas não para todos e em todos os tempos. Nos tempos de Jesus, como as mulheres, elas não eram contadas. Isso indicava que não tinham o mesmo valor que os homens. Daí os discípulos dificultarem o acesso de uma mulher a Jesus que, além disso, queria levar uma criança para ser abençoada.
Jesus, quebrando mais um paradigma, reage: "não as impeçais".

"Não as impeçais" não é o mesmo de "deixem que façam o que quiserem". Significa que seus direitos devem ser reconhecidos. No caso de Jesus, os discípulos lhes negava o direito de serem abençoadas.

Por que elas não poderiam sequer ser abençoadas por Jesus? Porque Jesus era por demais importante, bastante assediado por adultos e, sendo elas seres de segunda classe, não deveriam incomodá-lo. Esse era o pensamento por detrás da decisão deles. Errado, mas assim a cultura foi introjetada em suas mentes. (Preservar a cultura é algo bom, desde que os valores que elas apresentam sejam saudáveis ao indivíduo e à sociedade como um todo).

Jesus via de outra forma.
As crianças são frágeis, mas seres humanos.
Não desenvolveram a capacidade física para se defenderem, mas seres humanos.
Não têm autonomia econômica para sobreviverem, mas seres humanos.
Não têm pensamento amadurecido para decidirem, mas seres humanos.
Não têm maturidade emocional para se autocontrolarem plenamente, mas seres humanos.
Sim, seres humanos que merecem todo o nosso respeito e cuidado.

Portanto, as palavras de Jesus precisam ser vistas não somente como um incentivo à evangelização de crianças, no sentido de proporcionarmos a elas o direito de conhecerem um evangelho que lhes garante uma salvação no futuro, mas também o evangelho que reconhece e, por isso, valoriza seus direitos de serem salvas das maldades e equívocos humanos no presente.

Não as impedí-las de ir a Jesus, para ouvirem e conhecerem, por exemplo, o "sermão do monte" que lhes ensina direitos e deveres conferidos por Deus, para viverem a vida de maneira saudável. Conhecerem, portanto, não só o direito ao céu, mas à vida, em todas as dimensões, como manifestação da graça e do amor divinos.

sábado, 6 de outubro de 2012

O Sofrimento Não é Uma Punição de um Deus Cruel


Por Harold S. Kushner

Publicado em www.shalom.org.br

Eu acredito em Deus. Mas eu não acredito nas mesmas coisas sobre Ele nas quais acreditava anos atrás, enquanto crescia, ou quando fui um estudante de teologia. Reconheço Suas limitações. Ele é limitado no alcance de Suas ações pelas leis da natureza e pela evolução da natureza humana e liberdade moral humana.

Eu não mais responsabilizo Deus pelas doenças, acidentes e desastres naturais, porque eu percebo que perco muito e ganho pouco quando culpo Deus por essas coisas. Eu consigo reverenciar mais facilmente um Deus que odeia o sofrimento mas não pode eliminá-lo do que um Deus que escolhe fazer crianças sofrerem e morrerem, seja qual for o motivo superior.

Há alguns anos, quando a teologia da “morte de Deus” estava na moda, lembro ter visto um adesivo onde se lia “Meu Deus não está morto, sinto muito pelo seu.” Acho que em meu adesivo se leria “Meu Deus não é cruel, sinto muito pelo seu.”

Deus não causa nossos infortúnios. Alguns deles são causados por má sorte, alguns são causados por pessoas más, e alguns simplesmente são uma conseqüência inevitável de sermos humanos e mortais, vivendo em um mundo de leis naturais inexoráveis.

As coisas dolorosas que nos acontecem não são castigos por nosso mau comportamento, nem são, de algum modo, parte de algum grande projeto de Deus. Porque a tragédia não é vontade de Deus, não precisamos nos sentir chateados com Deus e nem traídos por Ele, quando a tragédia nos atinge. Podemos nos dirigir a Ele para que nos ajude a superá-la, exatamente porque podemos nos convencer que Ele se sente tão ultrajado por ela quanto nós.

Uma Noção de Significância Torna a Dor Mais Suportável

“Isso quer dizer que minha dor não tem sentido?” Este é o desafio mais expressivo que pode ser suscitado pelo ponto de vista que tenho defendido neste livro. Poderíamos suportar quase qualquer dor se soubéssemos que existe um motivo atrás disso, um propósito para a mesma. Mas mesmo um fardo mais leve se torna demais se sentirmos que não faz sentido.

Em um hospital de veteranos, os pacientes que foram seriamente feridos em combate têm uma maior facilidade para se adaptarem aos seus ferimentos do que pacientes com exatamente o mesmo ferimento, mas que tenha sido causado seja quando se divertiam numa quadra de futebol ou numa piscina, porque os primeiros podem acreditar que seu sofrimento, pelo menos, foi por uma boa causa. Pais que tenham se convencido de que existe algum propósito que será atingido pela limitação de seus filhos, podem aceitar o problema mais facilmente pelo mesmo motivo.

Vocês se lembram da história bíblica sobre Moisés, no capítulo 32 do Êxodo, como ele atirou as tábuas dos Dez Mandamentos quebrando-as, quando desceu do Monte Sinai e viu os Israelitas venerando o bezerro de ouro?

Existe uma lenda judaica que nos conta que, enquanto Moisés descia a montanha com as tábuas de pedra nas quais Deus havia escrito os Dez Mandamentos, ele não teve problemas para carregá-las, embora fossem placas de pedra largas e espessas, e a descida era íngreme. Afinal, apesar de serem pesadas, tinham sido inscritas por Deus e eram preciosas para Moisés. Mas quando Moisés encontrou o povo dançando em volta do bezerro de ouro, a lenda diz, as palavras desapareceram das tábuas. Elas se tornaram, novamente, apenas pedras negras. E, então, se tornaram pesadas demais para que ele as segurasse.

Poderíamos suportar qualquer fardo se soubéssemos que existe um sentido no que fazemos. Terei eu tornado mais difícil para as pessoas aceitarem suas doenças, seus infortúnios, suas tragédias familiares, aos lhes dizer que estas não são coisas enviadas por Deus, como parte de um plano mestre Dele?

Permitam que eu sugira que as coisas ruins que acontecem em nossas vidas não têm sentido quando nos acontecem. Elas não acontecem por algum bom motivo que nos faria aceitá-las de bom grado. Mas nós podemos dar a elas um significado. Podemos redimir nossas tragédias da insensatez ao conferir um significado às mesmas.

Olhar Para o Futuro Redime Nossas Tragédias

A pergunta que deveríamos estar formulando não é: “Por que isso aconteceu comigo, o que eu fiz para merecer isso?” Esta é, na verdade, uma pergunta irrespondível, inútil. Uma pergunta melhor seria: “Agora que isso aconteceu comigo, o que eu vou fazer a respeito?”

Martin Gray, um sobrevivente do Gueto de Varsóvia e do Holocausto, escreveu um livro sobre sua vida chamado For Those I Loved (Para Aqueles que Eu Amei). Ele conta como, depois do Holocausto, reconstruiu sua vida, se tornou um homem de sucesso, se casou e criou uma família. A vida parecia boa depois dos horrores do campo de concentração.

Então, um certo dia, sua mulher e filhos foram mortos quando um incêndio florestal destruiu sua casa, no sul da França. Gray ficou destroçado, à beira da loucura, com mais esta tragédia. As pessoas lhe encorajavam a exigir um inquérito para determinar as causas da tragédia. Mas, ao invés disso, ele optou por dedicar seus recursos para um movimento de proteção à natureza contra incêndios futuros. Ele explicou que um inquérito, uma investigação, se concentraria no passado e em questões de dor e tristeza e culpa. Ele queria se concentrar no futuro.

Um inquérito o colocaria contra outras pessoas – “será que alguém foi negligente? De quem é a culpa?” - e ficar contra outras pessoas, se dedicar a encontrar um vilão, apenas deixa uma pessoa solitária mais solitária ainda. A vida, ele concluiu, tem que ser vivida para alguma coisa, e não contra alguma coisa.

Nós também precisamos superar as questões que se concentram no passado e na dor --“por que isso aconteceu comigo?”—e, ao invés disso, precisamos fazer a pergunta que nos abre as portas do futuro: “Agora que isso aconteceu comigo, o que eu vou fazer a respeito?”

Rabi Harold S. Kushner é rabino pertencente ao Templo Israel em Natick, Massachusetts. Ele é autor de vários livros, incluindo Living a Life that Matters (Vivendo uma vida significativa).
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