Por Esther Carrenho
Postado em 26/06/2012 (www.cristianismohoje.com.br)
Tentamos fugir da tristeza porque ela traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor.
Pego emprestado o titulo de um artigo do psiquiatra infantil, Oswaldo Di Loretto para falar do quanto tendemos a fugir das tristezas que são naturais no decorrer da vida. Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, o pranto fazia parte da cultura israelita. Era comum as pessoas aparecerem em público vestidas com panos de saco e com cinzas sobre a cabeça, como sinal de uma tristeza profunda decorrente do luto ou de um drama humanamente sem solução. Todos respeitavam a atitude, e muitos eram solidários ou se identificavam com o sofredor. Ou seja,
havia um espaço na vida das pessoas para se entristecer e aceitar a tristeza do outro.
O tempo passou, alguns hábitos foram extintos e novas posturas ganharam espaço. Hoje, vivemos uma época em que a tristeza é vista como um mal que deve ser evitado a todo e qualquer custo. Isso fica claro quando não queremos contar a verdade sobre um diagnóstico de doença terminal e usamos argumentos paliativos em relação ao doente, ou quando oferecemos calmantes a alguém antes de contar da morte de um amigo ou parente próximo. Em muitos cultos religiosos, os fiéis são até estimulados a jogar a tristeza fora, como se o abatimento e a angústia fossem sentimentos prejudiciais e não aceitos por Deus.
E o problema começa bem cedo. As crianças não têm a permissão para ficarem tristes. Os pais sempre dão um jeito de arrumar algum entretenimento para o pequeno que quebrou o brinquedo favorito ou perdeu o bichinho de estimação; rapidamente, o filho choroso é contemplado com um novo brinquedo ou outro animal, sem ter tempo para internalizar o sofrimento e amadurecer diante da dor da perda. Pior ainda é quando se oferece um chocolate ou bala para a criança entristecida, como que querendo “adoçar” algo que deve ser vivenciado, e não camuflado. No caso dos adultos, é grande o arsenal de drogas medicamentosas que têm a capacidade de amenizar e bloquear a tristeza, promovendo uma alegria mecanizada e sem contentamento. Em nossa sociedade, toda manifestação de tristeza é vista como um tipo de depressão que precisa ser medicada.
Esquecemo-nos, contudo, que quem não consegue vivenciar a tristeza em toda sua profundidade também não conseguirá sentir a alegria em toda sua intensidade. Engana-se quem pensa que só a alegria expressa satisfação e contentamento na vida. É possível experimentarmos a tristeza, mesmo que intensa, e ainda assim revelarmos um coração satisfeito e contente, produzindo tesouros para nós mesmos e para os outros. “A poesia nasce da tristeza”, diz Rubem Alves.
Todos, mais cedo ou mais tarde, passaremos por tristezas. Algumas serão leves e passageiras; outras, profundas, como as perdas trágicas e inesperadas. Outros carregarão sempre uma história de privação e desamparo. Porém, podemos reconhecer as dores vividas e encontrar, no lamento – às vezes, milagrosamente –, cicatrização das feridas. Claro, tentamos fugir da tristeza porque é um sentimento que traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor. A compaixão, a misericórdia, a ternura e o amor são desenvolvidos com muito mais profundidade por aqueles que se abrem e corajosamente vão até o fim no processo de se entregar às situações de profunda tristeza, estejam elas presentes ou circunscritas ao passado.
Salomão, rei de Israel nos tempos bíblicos e tido como um homem extremamente sábio, descobriu essa realidade. São dele as palavras: “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. Cristo, por sua vez, experimentou o pranto publicamente, quando chorou a morte de seu amigo Lázaro. A caminho do Calvário, o Filho de Deus entristeceu-se profundamente diante da perspectiva de tamanho sofrimento. Em outras ocasiões, contudo, ele foi a festas e alegrou-se com seus discípulos. Então, podemos concluir que tanto a tristeza quanto a alegria são sentimentos que fazem parte do ser gente.
Quem conhece a tristeza no próprio ser sabe acolher as pessoas que passam pela dor. Gente assim consegue aceitar, respeitar e criar espaços para que aqueles que derramam lágrimas de tristeza, seja lá qual for a razão, possam se vestir de “saco e cinzas”, sem censura.
Caros amigos e amigas, este blog é um meio que encontrei de compartilhar artigos, textos, reflexões bíblicas sobre a vida e os desafios de se por em prática aquilo que cremos. Boa leitura!
sábado, 30 de junho de 2012
sábado, 23 de junho de 2012
Aceitando “Não” como a vontade de Deus
Por R.C. Sproul
"Confiamos que Deus sabe o que é melhor."
Fico admirado que, à luz do claro registro bíblico, alguém tenha a audácia de sugerir que é errado para os aflitos de corpo ou alma expressar suas orações por libertação em termos como “Se for a tua vontade…”. Dizem-nos que quando a aflição vem, Deus sempre deseja cura, que Ele não tem nada a ver com sofrimento, e que tudo o que devemos fazer é invocar a resposta que desejamos pela fé. Somos exortados a invocar o sim de Deus antes de Ele falar.
Afaste-se dessas distorções da fé bíblica! Elas são concebidas na mente do Tentador, que nos seduz a trocar fé por magia. Nenhuma quantidade de palavreado piedoso pode transformar tamanha falsidade em sã doutrina. Devemos aceitar o fato de que Deus às vezes diz não. Às vezes, Ele nos chama para sofrer e morrer mesmo se quisermos reivindicar o contrário.
Nunca um homem orou de modo mais fervorosamente do que Cristo orou no Getsêmani. Quem vai declarar Jesus falhou ao orar com fé? Ele colocou o Seu pedido diante do Pai com suor como sangue: “Passe de mim este cálice.” Essa oração foi simples e sem ambiguidade – Jesus estava gritando por socorro. Ele pediu para o cálice horrivelmente amargo ser removido. Cada grama de Sua humanidade encolheu-se diante do cálice. Ele implorou ao Pai para livrá-lo de Seu dever.
Mas Deus disse não. O caminho do sofrimento era o plano do Pai. Era a vontade do Pai. A cruz não era ideia de Satanás. A paixão de Cristo não foi o resultado de eventualidade humana. Não foi o plano acidental de Caifás, Herodes, ou Pilatos. O cálice foi preparado, entregue, e administrado pelo Deus Todo-Poderoso.
Jesus qualificou Sua oração: “Se for a tua vontade….” Jesus não “tomou posse e reivindicou”. Ele conhecia o Pai bem o suficiente para entender que era provável não ser a Sua vontade remover o cálice. Então, a história não termina com as palavras, “E o Pai se arrependeu do mal que Ele havia planejado, removeu o cálice, e Jesus viveu feliz para sempre.” Tais palavras beiram à blasfêmia. O evangelho não é um conto de fadas. O Pai não negociaria o cálice. Jesus foi chamado para bebê-lo todo. E Ele o aceitou. “contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22.42).
Esse “contudo” foi a oração suprema da fé. A oração da fé não é uma exigência que apresentamos para Deus. Não é a suposição de um pedido garantido. A oração autêntica da fé é aquela que é moldada na oração de Jesus. É sempre expressada em espírito de subordinação. Em todas as nossas orações, devemos deixar Deus ser Deus. Ninguém diz ao Pai o que fazer, nem mesmo o Filho. Orações são sempre solicitações feitas em humildade e submissão à vontade do Pai.
A oração da fé é uma oração de confiança. A própria essência da fé é confiança. Confiamos que Deus sabe o que é melhor. O espírito de confiança inclui uma disposição de fazer o que o Pai quer que façamos. Cristo encarnou esse tipo de confiança no Getsêmani. Embora o texto não seja explícito, é claro que Jesus saiu do jardim com a resposta do Pai à Sua declaração. Não houve maldição ou amargura. Sua comida e Sua bebida foram a vontade do Pai. Uma vez que o Pai disse não, estava feito. Jesus se preparou para a cruz.
Ter, 13 de Março de 2012
Traduzido por Pedro Vilela | iPródigo.com
sábado, 16 de junho de 2012
Meus defeitos
por Marcos Soares
Sou um homem defeituoso. Por natureza. Andando comigo mesmo há mais de 40 anos, posso lhe garantir que sei muito mais coisa a meu respeito do que gostaria. Por isso, tenho dito sempre: se quiser falar mal de mim, não se esqueça de me chamar. Tenho informações quentíssimas sobre mim.
Venho aprendendo algumas coisas sobre a minha própria e curta existência.
Tenho mais dificuldade de reconhecer meus defeitos do que estou disposto a admitir.
Estou longe de ser quem eu gostaria, mas já fui bem pior.
Meus defeitos principais raramente são identificados por terceiros. Em geral, quando me apontam um defeito, estão coando o mosquito e engolindo o camelo.
Sou pior do que meus amigos pensam e um tanto melhor do que meus inimigos imaginam.
Sou , enfim, um ser em construção. Não posso me conformar com o que já conquistei nem me desanimar pelo que ainda não conquistei. Não quero me desculpar com a vida nem exigir aos que me rodeiam que me aceitem “do jeito que eu sou”, porque isso seria supor que já está bom assim. Creio que Deus e meus semelhantes esperam um pouco mais de mim.
Pode ser que eu seja minoria, mas certamente não sou uma exceção. Pertenço a uma raça decaída, que ainda não foi totalmente regenerada. Por outro lado, pertenço a um povo santo, separado. O que me cabe fazer no tempo que ainda resta na carne é olhar para o alvo e seguir em frente.
Apesar de todos os meus defeitos.
Publicado em 27/02/2012 (www.irmaos.com)
sábado, 9 de junho de 2012
Estou cansada, mas vou continuar!
Por Esmeralda Campelo Vilela
Publicado em Agosto de 2004
Hoje, apesar do sol claro e lindo,
Da brisa suave entre as folhas,
Do sorriso maroto dos meninos na calçada,
Eu me senti cansada.
E até pensei, de forma equivocada,
Em parar, sumir, correr e desistir.
Cansada de ouvir lamentações,
Pedidos repetidos de orações.
Cansada de cobranças e desconfianças.
Cansada de ser pobre,
Abraçar pobre, cuidar de pobre,
Acreditar que pobre tem alma,
Enquanto há tantos ricos, fervorosos,
Abençoados, poderosos.
Para quem, ser pobre, estar apertado,
É coisa do inferno, é pecado.
Estou cansada do sincretismo,
Da Bíblia marcada com folhas de arruda.
Da troca do anjo que falhou na ajuda.
Estou cansada de ver gente rolando,
Pulando, gritando, sapateando
Com sapatinhos de fogo.
E, cansada deste jogo,
Senti vontade de parar.
E então, quando me pus a pensar,
Lembrei que o diabo não pára
E, sempre se prepara
Para roubar, matar e destruir.
E eu resolvi seguir.
Sabendo que há pranto em cada canto.
Na cidade bela,
No palácio, na favela.
Não posso desistir
Se há tantos que não podem sorrir
E tantos que só sabem chorar...
Estou cansada de ver poderosos na tela,
Bailarinos no altar,
"Inebriados", "embriagados", no templo.
E, em nenhum momento,
Souberam o que é o lamento
De quem vive na rua
Sob o sol, sob a lua.
No frio e no calor,
Convivendo com o ódio,
Sem conhecer o amor,
Sem nunca ouvir dizer:
Que o amor tanto crê
Tudo sofre, e espera.
Que o amor não se ufana
Não destrói, não engana.
Estou cansada de ver
Templos cheios de santos
Que têm mãos, mas não servem.
Têm pés, mas não andam,
Têm olhos, mas não vêem.
Têm ouvido, mas não ouvem.
Têm coração, mas não amam.
Têm bens, mas não repartem.
Estou cansada, mas vou continuar.
Porque a minha caminhada está perto de acabar...
E o dono da lavoura vai voltar.
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Esmeralda Campelo Vilela, 83 anos, casada há 56, 6 filhos e 19 netos (dos quais 8 são pastores), e 6 bisnetos, filha do primeiro missionário brasileiro a trabalhar com indígenas no Brasil (Zacarias Campelo), é pastora da Comunidade Evangélica Betesda, em Belo Horizonte, e presidente da Fundação Esmeralda Campelo, uma instituição filantrópica que abriga mais de 360 crianças de Contagem, MG.
http://www.esmeraldacampelo.com.br
sábado, 2 de junho de 2012
Duas palavras que desarmam
Por Philip Yancey
Há vários anos, um amigo meu chamado Craig Detweiler tem levado seus alunos de comunicação da Universidade de Biola e da Universidade de Pepperdine ao Festival de Sundance de Cinema Independente. Uma vez, o festival esgotou as entradas de um filme mordaz em sua representação sobre os evangélicos americanos. O filme conta a história de uma família branca suburbana que morre em um acidente de carro a caminho de uma reunião da igreja Batista do Sul. Na chegada ao céu, um tatuado Jesus envia-os de volta à Terra, desta vez despojados do pecado original, eles celebram a sua falta de vergonha andando nus e fazendo coisas que incomodam os seus amigos e vizinhos. Finalmente, durante um estudo bíblico, a comunidade cristã elabora um plano para dar à família uma torta de maçã envenenada, enviando-os imediatamente de volta ao céu.
De acordo com Craig, o público dava gargalhadas durante todo o filme, desfrutando da representação dos cristãos como reprimidos, intolerantes e até mesmo homicidas. O diretor foi aplaudido de pé e depois respondeu as perguntas da platéia. Alguém perguntou se os cristãos conservadores tinham visto o filme. "Estou pronto para a luta", disse o diretor.
Vou deixar Craig contar o que aconteceu depois, como ele comenta em seu livro - Um estado púrpura da mente:
“Esforcei-me para articular as minhas palavras. Minha voz falhou um pouco. Mas consegui dizer: ‘Jay, obrigado por este filme. Como um nativo da Carolina do Norte, cineasta companheiro, e cristão evangélico...’ Eu nunca uso a palavra evangélico. Ela está tão carregada de uma bagagem negativa que geralmente tento me afastar destas associações. Mas neste caso parecia perfeitamente apropriado. Eu estava falando em nome de minha comunidade, em resposta a uma determinada posição em que nós mesmos tínhamos nos metido. Jay deu um passo para trás, pronto para a luta. Ele ficou tenso, preparado para lançar um contra-ataque. O público teve a sensação de que as coisas iriam ficar feias. Minhas palavras seguintes os pegaram de surpresa:
"Jay, peço desculpas por tudo que temos feito em nome de Deus."
O tom na sala mudou. Os participantes da audiência se entreolharam. "Será que ouvimos direito?" Eles esticaram os pescoços. "Quem disse isso?" Jay gaguejou, sem saber o que dizer. Ele estava pronto para ser atacado, mas não estava preparado para um pedido de desculpas. Ele ofereceu um modesto "Obrigado." O público estava literalmente desarmado ....
Pessoas da platéia se aproximaram de mim depois com abraços. Um casal de lésbicas me agradeceu. Homens gays me beijaram. Uma pessoa disse: ‘Se isso for verdade, eu podería dar uma outra chance ao cristianismo.’ Lágrimas foram derramadas em todos os lugares. Bastaram apenas duas pequenas palavras: ‘Peço desculpas’.
Meus alunos aproveitaram a oportunidade para falar com o elenco e a equipe, convidando-os a se juntar a nós para continuar a conversa. Nossos ‘inimigos’ se tornaram amigos rapidamente, se juntando a nós para o almoço. O elenco veio a nossa aula no dia seguinte para responder perguntas durante uma hora. O ator admitiu quão assustado estava ao entrar em nosso local de encontro na igreja. No palco, ele confessou: ‘Ao chegar neste prédio, meu coração estava batendo mais do que em qualquer teste que eu já fiz’. O produtor disse: ‘Este foi o destaque da semana’. Um simples pedido de desculpas levou a uma série de conversas e intercâmbios sobre a nossa fé e como vivê-la.
Nos anos seguintes, Craig e seus alunos tem sido anfitreões de equipes de outros filmes que abordam questões espirituais, incluindo alguns que zombam dos cristãos. O escritor Higher Ground disse: "fui convidado para falar na sua igreja em uma sessão de perguntas e respostas e realmente foi a experiência mais emocionante que eu me lembro em muito tempo. Eles eram a antítese do juízo ...".
Experiências como estas ajudam a convencer-me de que a abordagem de admitir nossos erros, além de ser mais fiel ao evangelho da graça, também é mais eficaz para expressar o que somos. A propaganda faz com que as pessoas se chateiem; admitir os erros com humildade desarma. Longe da pretensão de saber tudo, os cristãos confessam regularmente que as coisas não são assim. Afinal, Jesus disse que veio pelos doentes e não pelos saudáveis, pelos pecadores, e não pelos santos.
A revista Leadership comentou sobre as quatro queixas que escutam daqueles que buscam uma espiritualidade: Você não me escuta. Você me julga. Sua fé me confunde. Você fala sobre o que está errado em vez de fazer as coisas certas. Refletindo sobre essas queixas, me ocorre que os cristãos não conseguem se comunicar com os outros porque eles ignoram os princípios básicos das relações. Jesus, Paulo, João e Tiago enfatizaram um princípio acima de todos os outros: amar a Deus e amar ao próximo. Por não ouvir, por julgar, e por dizer palavras que não se traduzem em ação, desencorajaramos um mundo faminto pela Água Viva que realmente pode satisfazer.
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