sábado, 2 de junho de 2012

Duas palavras que desarmam


Por Philip Yancey

Há vários anos, um amigo meu chamado Craig Detweiler tem levado seus alunos de comunicação da Universidade de Biola e da Universidade de Pepperdine ao Festival de Sundance de Cinema Independente. Uma vez, o festival esgotou as entradas de um filme mordaz em sua representação sobre os evangélicos americanos. O filme conta a história de uma família branca suburbana que morre em um acidente de carro a caminho de uma reunião da igreja Batista do Sul. Na chegada ao céu, um tatuado Jesus envia-os de volta à Terra, desta vez despojados do pecado original, eles celebram a sua falta de vergonha andando nus e fazendo coisas que incomodam os seus amigos e vizinhos. Finalmente, durante um estudo bíblico, a comunidade cristã elabora um plano para dar à família uma torta de maçã envenenada, enviando-os imediatamente de volta ao céu.

De acordo com Craig, o público dava gargalhadas durante todo o filme, desfrutando da representação dos cristãos como reprimidos, intolerantes e até mesmo homicidas. O diretor foi aplaudido de pé e depois respondeu as perguntas da platéia. Alguém perguntou se os cristãos conservadores tinham visto o filme. "Estou pronto para a luta", disse o diretor.

Vou deixar Craig contar o que aconteceu depois, como ele comenta em seu livro - Um estado púrpura da mente:

“Esforcei-me para articular as minhas palavras. Minha voz falhou um pouco. Mas consegui dizer: ‘Jay, obrigado por este filme. Como um nativo da Carolina do Norte, cineasta companheiro, e cristão evangélico...’ Eu nunca uso a palavra evangélico. Ela está tão carregada de uma bagagem negativa que geralmente tento me afastar destas associações. Mas neste caso parecia perfeitamente apropriado. Eu estava falando em nome de minha comunidade, em resposta a uma determinada posição em que nós mesmos tínhamos nos metido. Jay deu um passo para trás, pronto para a luta. Ele ficou tenso, preparado para lançar um contra-ataque. O público teve a sensação de que as coisas iriam ficar feias. Minhas palavras seguintes os pegaram de surpresa:

"Jay, peço desculpas por tudo que temos feito em nome de Deus."

O tom na sala mudou. Os participantes da audiência se entreolharam. "Será que ouvimos direito?" Eles esticaram os pescoços. "Quem disse isso?" Jay gaguejou, sem saber o que dizer. Ele estava pronto para ser atacado, mas não estava preparado para um pedido de desculpas. Ele ofereceu um modesto "Obrigado." O público estava literalmente desarmado ....

Pessoas da platéia se aproximaram de mim depois com abraços. Um casal de lésbicas me agradeceu. Homens gays me beijaram. Uma pessoa disse: ‘Se isso for verdade, eu podería dar uma outra chance ao cristianismo.’ Lágrimas foram derramadas em todos os lugares. Bastaram apenas duas pequenas palavras: ‘Peço desculpas’.

Meus alunos aproveitaram a oportunidade para falar com o elenco e a equipe, convidando-os a se juntar a nós para continuar a conversa. Nossos ‘inimigos’ se tornaram amigos rapidamente, se juntando a nós para o almoço. O elenco veio a nossa aula no dia seguinte para responder perguntas durante uma hora. O ator admitiu quão assustado estava ao entrar em nosso local de encontro na igreja. No palco, ele confessou: ‘Ao chegar neste prédio, meu coração estava batendo mais do que em qualquer teste que eu já fiz’. O produtor disse: ‘Este foi o destaque da semana’. Um simples pedido de desculpas levou a uma série de conversas e intercâmbios sobre a nossa fé e como vivê-la.

Nos anos seguintes, Craig e seus alunos tem sido anfitreões de equipes de outros filmes que abordam questões espirituais, incluindo alguns que zombam dos cristãos. O escritor Higher Ground disse: "fui convidado para falar na sua igreja em uma sessão de perguntas e respostas e realmente foi a experiência mais emocionante que eu me lembro em muito tempo. Eles eram a antítese do juízo ...".

Experiências como estas ajudam a convencer-me de que a abordagem de admitir nossos erros, além de ser mais fiel ao evangelho da graça, também é mais eficaz para expressar o que somos. A propaganda faz com que as pessoas se chateiem; admitir os erros com humildade desarma. Longe da pretensão de saber tudo, os cristãos confessam regularmente que as coisas não são assim. Afinal, Jesus disse que veio pelos doentes e não pelos saudáveis, pelos pecadores, e não pelos santos.

A revista Leadership comentou sobre as quatro queixas que escutam daqueles que buscam uma espiritualidade: Você não me escuta. Você me julga. Sua fé me confunde. Você fala sobre o que está errado em vez de fazer as coisas certas. Refletindo sobre essas queixas, me ocorre que os cristãos não conseguem se comunicar com os outros porque eles ignoram os princípios básicos das relações. Jesus, Paulo, João e Tiago enfatizaram um princípio acima de todos os outros: amar a Deus e amar ao próximo. Por não ouvir, por julgar, e por dizer palavras que não se traduzem em ação, desencorajaramos um mundo faminto pela Água Viva que realmente pode satisfazer.

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