domingo, 14 de junho de 2009

Tentação: Quando aquilo que parece bom é ruim.


por Tim Stafford

Você sabe qual desventura considero mais desanimadora que qualquer outra em minha vida? E o sentimento que tenho logo após ter cedido, de novo, à tentação — depois de sentir uma enorme autopiedade ou de olhar para uma re¬vista pornográfica.
Não tenho dúvida quanto ao perdão. Sei que Deus tirará o pecado e me renovará. Mas me pergunto se algum dia escapa¬rei da tentação. Quando se trata de encará-la, será que tenho forças para resistir? Posso me enxergar caindo de novo, de novo e de novo.
Assim, tenho pensado na tentação, imaginando se há uma chave, um segredo mágico para resistir a ela. "Entregar-se a Deus" ou "voltar-se para o Senhor" são frases que têm me ajudado às vezes. Mas tenho descoberto que não há mágica nas frases. Não posso dar as costas à tentação pondo-me a fazer ginástica mental.
"Técnicas" religiosas têm me desanimado. Com elas acho que tenho a resposta. Então, cedo à tentação mais uma vez, e abruptamente me dou conta de que não tenho.
Tem ajudado, no entanto, pensar na natureza da tentação. Há alguma característica consistente que posso discernir nela? Encontrei três diferentes componentes da tentação, e todos os três devem ser tratados de uma única vez.
1 - A tentação pode ser um objeto físico que você encontra. É uma linda mulher que você pode facilmente transformar em obje¬to, ao deixar que o corpo dela lhe ocupe os pensamentos.
A tentação é um pedaço de torta quando você está tentan¬do perder peso. É uma revista pornográfica. É aquele troco a mais que o caixa lhe devolve.
Se você quiser evitar a tentação, evite estes objetos o máxi¬mo que puder. Infelizmente, não é fácil distanciar-se de alguns desses objetos sem se tornar eremita.
2 - A tentação é uma situação de pressão, quando todo o mundo o provoca e humilha para que faça algo que você não gostaria.
A tentação é quando seu chefe pega no pé e você tem von¬tade de chicoteá-lo. É quando você está no meio de estranhos que estão rindo e se divertindo e você tem vontade de sumir dali e curtir a autopiedade.
Em outras palavras, a tentação vem com situações de pres¬são. Por conta própria, você talvez não queira fazer algo que o leve a situações de tentação. Você não se envolveria com fofo¬ca se não estivesse no meio de amigos que estivessem fofocando. Não falaria palavrões se seus amigos não falassem.
De algumas dessas situações você pode ficar distante, tanto quanto pode ficar distante de objetos tentadores. Se um gru¬po de amigos está sempre envolvido em problemas, você pode encontrar novos amigos ou ficar longe deles nas ocasiões em que saírem procurando problemas.
Há outras situações que você pode evitar. Uma observação bem colocada pode aliviar um momento de tensão. Você pode se tornar um líder em seu grupo em vez de ser mero partici¬pante. Você pode sentar com seu chefe e explicar como se sente, de modo que ele não se sinta tão inclinado a pegar-lhe no pé.
Infelizmente, algumas dessas situações de pressão não são fáceis de evitar ou mudar. A tentação parece inevitável.
3 – A tentação é uma voz em sua cabeça sugerindo: "você é indig¬no. Por que tentar?". A tentação diz: "Se eles o tratam assim, você deve tratá-los da mesma maneira. Eles merecem." "Que diferença faz se você enganar mais uma vez?"
A tentação trabalha de dentro para fora, pondo em questão se o que Deus diz é verdade e espalhando meias-verdades em sua mente. Este é o aspecto mais devastador da tentação. Obje¬tos tentadores e situações de pressão não são suficientes: eles têm de vir acompanhados de pensamentos que operam no cére¬bro. E dos pensamentos você obviamente não pode fugir. Você pode ser tentado em qualquer lugar, a qualquer hora — na igreja, sozinho, no deserto (onde, de fato, Jesus foi mais severa¬mente tentado). Então, como poderá "evitar a tentação?"
Você, na verdade, não pode evitá-la. Algumas pessoas ten¬tam isolar a tentação de suas vidas. Só freqüentam festas "se¬guras", assistem a filmes "seguros" e têm amigos "seguros". Fi¬cam distantes da praia e de livros não-cristãos. Estabelecem uma série de regras para seguir rigidamente, de modo que a tentação jamais encontre uma brecha em sua personalidade. Todas essas coisas podem ser apropriadas ocasionalmente para manter a porta da tentação fechada. Mas qualquer solução real também tem de lidar com o cérebro. Se seus pensamentos estiverem livres da tentação você poderá resistir aos proble¬mas que amigos e situações trazem a sua vida.
Não adianta dizer a si mesmo que a tentação não existe. Se você está de dieta, um pedaço de torta de maças parece tenta¬dor, e não há nada de mal nisso. Já ouvi gente dizer que o pecado não tem graça, mas não é verdade. O pecado é diver¬tido... por algum tempo.
O que torna a tentação sem graça a longo prazo são as coisas que vêm atreladas a ela. Você pode gostar de um peda¬ço de torta hoje, mas isso significa que amanhã não vai gostar do que a balança terá para lhe dizer. Você pode gostar de sentir autopiedade hoje, mas dias demais sustentando auto-piedade, e ela será a única coisa de que você poderá desfrutar: você já não terá mais amigos. O sexo antes do casamento pode ser prazeroso hoje, mas que tipo de atitudes e relacionamen¬tos você estará construindo para o amanhã?
Uma mente transformada, que tenha forças para resistir à tentação, requer apelo a lealdades elevadas, desejos mais fortes. Resistir à tentação é basicamente simples, se você pensar bem. É uma escolha. Você pode analisar as opções e decidir o que quer fazer. O problema é que os prazeres da tentação são, na maioria das vezes, mais óbvios e imediatos que os prazeres de não ceder. Além disso, sua mente já foi distorcida repetidamen¬te, de modo que nem sempre consegue ver de maneira clara aquilo que realmente é bom para você. Parece bem melhor ser amado por uma multidão de amigos que ser amado por Deus. Você precisa, portanto, renovar a mente — entrar em contato com o que é realmente melhor para si.
Você precisa reeducar a mente de modo que essas recom¬pensas se tornem tão óbvias quanto as recompensas que rece¬be por ceder à tentação.
Talvez os princípios a seguir o ajudem nesse processo:
1. Saiba onde está pisando. Pense nos resultados a longo prazo de suas ações. Hoje pode ser mais fácil brigar com sua noiva e fazer as coisas de seu jeito. Mas que tipo de relacionamento você está cultivando para o futuro? Por outro lado, para onde a obediência a Deus vai conduzi-lo? Se você consegue enxer¬gar os atrativos do tipo de vida que Deus quer plantar em você, será menos tentado a optar pelo prazer momentâneo.
2. Substitua os pensamentos tentadores por algo melhor. Você não pode ignorar a tentação, mas pode encher seus pensa¬mentos de algo mais. A oração, na maioria das vezes, ajuda, e não necessariamente a oração pedindo ajuda para resistir à tentação. Eu sempre começo orando pelos amigos. Às vezes, quando estiver se sentindo tentado, é de muita ajuda lembrar do poder e do amor de Jesus, que está a seu lado, que vive com você. Algumas pessoas usam este versículo para ajudá-las a lembrar: "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4:13).
Mas você não tem de encher a mente com pensamentos religiosos. Às vezes a melhor coisa a fazer é apanhar um livro interessante, ligar para um amigo ou começar a trabalhar em algum projeto. Se você for tentado a assistir a um filme violen¬to, procure outro. O problema com muitas tentações é que elas são próximas e imediatas. Se você conseguir colocá-las de lado por um tempo e der à mente a chance de se recuperar do pânico, estará em melhores condições de enxergar um quadro mais amplo.
3. Sua mente tende a seguir padrões. Mude os padrões e você mudará a mente. Em uma família, as crianças estão sempre brigando sobre os programas de TV a que vão assistir. Elas deveriam mudar o padrão, decidindo com antecedência os programas e chegando a um acordo muito antes de ligar o aparelho.
4. Rompa com o padrão do fracasso confessando. Quando você fala sobre seus erros com outra pessoa, isso muda sua atitude. Por um lado, você recebe perdão, e a mente pode então descansar. Você se recusa a se entregar e a repetir seus fracassos por conta de uma atitude do tipo "já-fiz-uma-vez-que-diferença-mais-uma-pode-fazer?". Por outro lado, um amigo pode ajudá-lo a sustentar sua decisão de não mais ceder à tentação. Ele pode acompanhá-lo, encorajá-lo e orar por você.
5. Acima de tudo, lembre-se de quem você é: um filho de Deus, amado por ele. Quando os pensamentos tentadores vierem, traga esse fato à lembrança: "eu poderia agir assim, mas isso traz glória a Deus de verdade? Eu quero ser leal e amável para com ele do mesmo modo que ele é comigo". Quanto mais você compreender o amor de Deus, mais vai querer estar perto dele e obedecer-lhe. Algumas de suas tentações irão simplesmente desaparecer: passarão a parecer coisa boba. Seus prazeres se¬rão insignificantes, se comparados às coisas boas que está ex¬perimentando.
Você se fortalece toda vez que derrota a tentação. Cada sucesso é um exercício de edificação. Quanto mais você expe¬rimenta a alegria que Deus tem para sua vida, menos atraente a velha vida se mostra. Sempre haverá tentações enquanto viver nesta terra, mas quanto mais se aproximar de Deus, me¬nos vai querer decepcioná-lo.
Só mais uma coisa: cada um de nós possui ao menos um ponto fraco. Podemos descobrir que a tentação é muito forte ali e experimentar repetidos fracassos. Com freqüência fica¬mos desanimados e somos tentados por um pecado ainda pior: a desesperança.
Em ocasiões assim, é mais importante que nunca perceber a natureza ilimitada do perdão de Deus. Ele é ilimitado — conceito de difícil compreensão para nós. Mas se você se ape¬gar a ele, um dia vai compreender. E não apenas isso: um dia a área em que você é mais fraco será transformada num ponto particularmente forte.

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