por Harold Kushner
(trechos do livro – Que tipo de pessoa você quer ser? de Harold S. Kushner)
Todos os anos, em una noite do final do mês de Março, milhões de pessoas ficam acordadas até tarde para assistir à entrega do Oscar. As cobiçadas estatuetas são concedidas ao melhor diretor, ao melhor ator e à melhor atriz, ao melhor filme e ao melhor profissional de várias outras categorias, entre as quais as de ator e atriz coadjuvantes.
A categoria dos coadjuvantes sempre me deixou intrigado. Não sei como é dirigir um filme. Não tenho a menor idéia do que é preciso para compor uma partitura musical ou desenhar o guarda-roupa dos artistas. No entanto, eu conheço a sensação e acho que todos conhecemos - de ser um ator coadjuvante no filme de outras pessoas, de não estar na berlinda e sim fazendo coisas que dão forma ao enredo e o impulsionam. Uma amiga está fazendo quimioterapia porque está com câncer; nós a visitamos, preparamos uma refeição para ela e a acompanhamos a uma consulta. A vida dela é um drama, uma luta de vida ou morte. Nós estamos em segundo plano, fazendo o possível para que tudo termine bem. Nossa igreja ou sinagoga assume o compromisso de trabalhar com os pobres e abandonados. Não estamos preparados para deixar nossa família e partir para o Haití ou para a África, mas prestamos contribuição para que outras pessoas possam ir. Podemos desejar ardentementeser o astro ou estrela da nossa vida, porém quase ninguém consegue atingir essa posição. Outros atuarão no centro da trama e nós estaremos no papel coadjuvante, fazendo coisas importantes acontecerem.
A Dra. Rachel Naomi Remen conta una história verdadeira sobre um de seus pacientes, George que recebeu o diagnóstico de que tinha câncer de cólon e foi informado que sua expectativa de vida era de apenas poucos meses. Ele chorou no consultorio dela porque achava que havia desperdiçado a vida e agora era tarde demais para mudar as coisas. Cientista e inventor, ele ganhara muito dinheiro desenvolvendo e comercializando aparelhos médicos, mas tinha se dedicado demais ao trabalho e negligenciado a família. Casara-se duas vezes e estava afastado das duas mulheres e de vários filhos adultos. Diante da perspectiva de morrer sozinho, sem que ninguém chorasse sua perda, o homem se lamentou: “que idiota eu fui. Eu só pensava em ganhar dinheiro e vou acabar deixando tudo que ganhei para um bando de pessoas que nem mesmo gostam de mim”.
Um dos aparelhos que ele criara, sua invenção mais lucrativa, ajudava portadores de uma doença crônica a viver uma vida praticamente normal. Por coincidência, a Dra. Remen tinha uma jovem paciente que sofria daquela enfermidade e usava o o aparelho. Graças ao equipamento, a moça pôde trabalhar, casar-se e formar uma família. Quando a Dra. Remen lhe contou que conhecia o inventor do aparelho, a paciente ficou pasma e muito entusiasmada. Ela perguntou se podería conhecê-lo. Em um jantar elegante os parentes da moça, que a tinham ajudado durante a doença e a visto retomar sua vida normal falaram da importância da invenção de George na vida deles. George, que havia chorado no consultorio da médica poucos dias antes, chorou de novo naquela noite por um motivo muito diferente.
Quando ficamos preocupados achando que nossa vida está passando num cortejo de trivialidades e eventos insignificantes, quando desejamos ardentemente fazer coisas que tenham importância e nos consideramos fracassados por que não concretizamos nada disso, a melhor maneira de nos livrarmos desse estado de espiríto é encontrar alguém que precise da nossa ajuda, [e nos tornarmos um coadjuvante em sua vida].
Um individuo comum pode de fato mudar as coisas? Será que nós, no nosso anonimato, somos capazes de interferir na História? Raramente conseguimos mover montanhas e mudar o curso dos acontecimentos através do que fazemos sozinhos. No entanto, na qualidade de membros de uma comunidade dedicada à bondade, agindo como pessoas bondosas e praticando boas ações, somos capazes de mudar o mundo. Podemos ter importância.
Saber que somos importantes para Deus faz com que uma parte considerável das nossas dúvidas e dos nossos receios desapareçam. Não temos que descobrir a cura do câncer para fazer diferença para o mundo e não precisamos escrever grandes romances para que Deus repare em nós. Basta compartilharmos nossa vida com outras pessoas e escolhermos a produtividade em vez da estagnação. Como disse Madre Teresa de Calcutá: “Poucos entre nós podem fazer grandes coisas, mas todos podemos fazer pequenas coisas com muito amor”. Somos o elenco coadjuvante em um espetáculo magnífico e contínuo, e é um intestimável privilégio fazer parte dele.
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