sábado, 16 de abril de 2011

O Legado Espiritual de Martin Luther King Jr.


Por Jonathan Wilson-Hartgrove

Lembrar-se do ícone dos direitos civis significa lembrar-se do seu chamado por Cristo

A escola pública que meu filho JaiMichael frequenta não abre na terceira segunda-feira de janeiro. Como a maioria dos americanos, eles tiram o dia para honrar o Dr. Martin Luther King Jr. No ano passado, eu e meu filho pegamos o ônibus que vai para o centro da cidade no feriado e eu contei a ele a história do Boicote aos ônibus de Montgomery - a história que fez King famoso e deu a ele o Prêmio Nobel da Paz. JaiMichael, ainda no Jardim de Infância, estava mais excitado em andar de ônibus. Mas eu estava tentando descobrir como relembrar um santo quando ele se torna um herói nacional.

A Igreja tem uma longa história de recordar pessoas que seguiram de perto a Jesus na sua própria época e, portanto, nos mostra como é viver com fidelidade nos lugares onde vivemos. Chamar estas irmãs e irmãos de “santos” não é sugerir que eles foram perfeitos, mas reconhecer que suas vidas foram confirmadas por Deus. Muitos dos santos são pessoas que tomaram sua cruz e seguiram a Jesus até a morte que a cruz demanda. Eis porque a Igreja relembra estes santos no dia de sua morte.

A maneira como relembramos King tem tudo a ver se acreditamos que seu momento mais importante foi em 28 de agosto de 1963 ou em 04 de abril de 1968. Em milhares de eventos comunitários e estaduais, o sonho que King compartilhou com os Estados Unidos em 28 de agosto de 1963 será repetido e relembrado. Um país que foi fundado sob os princípios de liberdade e justiça para todos se lembrará de como a justiça foi tanto tempo negada aos afro-americanos, como o movimento dos direitos civis deixou claro que separado não é igual, e como o sonho de King para todas as pessoas vivendo juntas em paz estava “profundamente enraizado no sonho americano”. Nós celebraremos o progresso que foi alcançado com grande luta e sacrifício, tornando possível para um país que um dia escravizou afro-americanos ser agora governado por um afro-americano. E seremos desafiados pelo sonho de King a continuar o trabalho de viver à altura de nossos mais altos valores e convicções mais profundas.

Quando eu penso em JaiMichael, um garoto afro-americano cheio de seus próprios sonhos e promessas, eu me alegro em viver num país que se lembra de King como um herói nacional. Mas como um discípulo de Jesus, quero mais para o meu filho do que o Sonho Americano. Quero que ele seja livre não somente para buscar sua própria felicidade, mas para amar a Deus e seu próximo da forma radical daquele rebelde de Nazaré que salvou o mundo não como um herói nacional, mas como um inimigo do estado crucificado. Eis porque eu quero que meu filho conheça o testemunho de Martin Luther King que sacrificou sua vida em 04 de abril de 1968.

Jesus disse: “Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles” (João 15:13, NTLH). A mensagem radical do Evangelho é que “Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no pecado”. Resumindo, Jesus deu Sua vida pelos seus inimigos. Quando prestamos atenção na vida de King como uma vida de discipulado, podemos ver que seu assassinato foi também um sacrifício voluntário de si mesmo por amor aos seus inimigos. Ver a vida de King através das lentes de sua morte é ver como ela foi a imitação de Cristo. Como tal, ela nos ensina algo sobre o que pode significar para nós seguir a Jesus aqui e agora.

A maioria das pessoas sabe que King era um pregador batista. No mundo eclesial no qual foi criado, ele pode ser considerado um prodígio, indo cedo para a faculdade, dominando a arte de falar em público e fazendo doutorado em teologia. Um jovem promissor com uma jovem família, King fez o que a maioria das pessoas em sua posição faria depois de terminar os estudos. Ele foi procura um bom emprego. E encontrou na Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama.

A Igreja Batista da Avenida Dexter deveria ser o primeiro passo em uma carreira ministerial para o promissor Dr. King. Mas a carreira de King foi interrompida por duas coisas: o movimento de direitos civis e Jesus. Pelo seu próprio relato, o movimento lhe chamou primeiro. Depois que Rosa Parks foi presa por não dar assento a um homem branco num ônibus da cidade, o novo pastor, King, foi drafted para liderar a comunidade afro-americana num boicote do transporte público. Várias semanas na luta, ele tentou abandoná-la. Ele não tinha levado em conta as ameças de morte e 24 horas de reuniões . Depois que sua resignação foi recusada, King logo foi para a prisão. O movimento estava começando a atrapalhar sua carreira.

Então Jesus veio chamar. Ele veio tarde numa noite de inverno, quando King estava dominado pelo medo depois de receber outro telefonema de alguém ameaçando furiosamente sua vida. Na mesa da cozinha, King abaixou sua cabeça frustrado e confuso. Então, segundo o próprio relato de King: “Algo me falou: ‘Você não pode ligar para o papai agora, você não pode ligar para a mamãe. Você tem que buscar aquilo naquela pessoa sobre quem seu pai costumava lhe falar, aquele poder que pode fazer caminho quando não há caminho’”. Na escuridão da noite, Jesus veio lhe chamar. King nunca mais foi mesmo.

King seguiu Jesus de Montgomery a Washington, e o sonho que ele compartilhou com os Estados Unidos uns oito anos depois estava certamente tão enraizado no Evangelho como estava na Constituição dos EUA. Mas porque King estava seguindo a Jesus, ele não poderia parar na sua entrada triunfal em Washington. Ele não poderia descansar quando as multidões estavam encorajando ou quando Lyndon Johnson assinou o Ato dos Direitos de Voto. Ele ainda ouvia a voz do chamado de Jesus para seguir adiante. Assim, ele desafiou o militarismo dos EUA que estava destruindo vidas inocentes no Vietnam. Ele ouviu a voz do profeta Amós; assim ele assumiu a Campanha dos Pobres. Já um herói nacional, mudou-se com sua família para uma das piores vizinhanças de Chigago para caminhar com os pobres na suas lutas.

Todo o tempo, King sabia que estava marcado para morrer. Não só ele continuou a receber ameaças de morte, como se tornou cada vez mais consciente do poderes atrozes que defendiam o status quo com violência. King sabia que desafiar aqueles poderes é tomar sua cruz. Ele o fez — e com amor — porque sua vida tinha sido reclamada por Jesus. Este é o legado que recordamos em 04 de abril.

Depois de ler uma história dos Ursos Berenstain ou de um livro de futebol, leio para o meu filho toda noite a história de um santo. Algumas delas são longas e ele, ocasionalmente, perde o interesse ou cai no sono. Mas quando chego ao final, ele sempre faz a mesma pergunta: “Como ele morreu, papai?”. Como todos os santos, compreendemos melhor o legado de King se recordarmos sua vida à luz de sua morte.

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Publicado originalmente na revista Relevant - http://www.relevantmagazine.com/life/current-events/features/24131-the-spiritual-legacy-of-martin-luther-king-jr

Jonathan Wilson-Hartgrove Jonathan é de Carolina do Norte, formado pela Eastern University e Duke Divinity School, pastor associado da histórica St. Johns Baptist Church. A Casa Rutba, onde Jonathan vive com sua esposa Leah, seu filho JaiMichael e outros amigos, é uma nova comunidade monástica que ora, come e convive, acolhendo vizinhos e sem-tetos. Jonathan dirige a School for Conversion, um seminário alternativo que oferece cursos pelos EUA, é editor de New Monastic Library Series (Cascade Books) e editor associado de Resources for Reconciliation Series (InterVarsity Press). Suas experiências como membro de uma equipe de Christian Peacemaker Team, pouco antes dos Estados Unidos começarem a bombardear o Iraque em 2003, se tornaram o tema do livro To Baghdad and Beyond (Cascade Books: 2005), que descreve a conversão do casal ao “Novo Monasticismo”.

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