Caros amigos e amigas, este blog é um meio que encontrei de compartilhar artigos, textos, reflexões bíblicas sobre a vida e os desafios de se por em prática aquilo que cremos. Boa leitura!
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Não basta correr mais rápido
Ed René Kivitz
Para quem deseja independência para fazer o que gosta
Toda terça almoço com um grupo de oito profissionais. Todos jovens, sadiamente ambiciosos e acreditando que um dia vão dar a tacada certa. Em comum, o desejo de conciliar o sucesso profissional com a qualidade de vida pessoal, ou como disse Jesus, descobrir como ganhar o mundo sem perder a alma. Aliás, vez por outra discutimos a respeito de quem foi que disse que temos mesmo que ganhar o mundo, e se o projeto de ganhar a alma já não seria suficientemente desafiador e compensador. Mas o fato é que todos temos que defender o leite das crianças e já que estamos metidos no mercado, buscamos encontrar caminhos menos opressivos e estressantes. Nem precisa dizer que ninguém está contente com a vida de assalariado.
Dia desses a conversa começou quando um deles me perguntou como poderia fazer um plano de vida e carreira que o levasse à independência financeira de modo a poder se dedicar às coisas que realmente acredita, sabe e gosta de fazer. Essa foi fácil. A resposta já estava embutida na pergunta. Não tenho a menor dúvida que a independência financeira não é um pré-requisito para que alguém se dedique ao que acredita, sabe e gosta de fazer. Justamente ao contrário: a independência financeira é uma conseqüência natural para quem se dedica ao que acredita, sabe e gosta de fazer. Em outras palavras, o segredo do sucesso é a vocação.
Aristóteles disse que onde suas habilidades se cruzam com as necessidades ao seu redor, aí está sua vocação. O gênio definiu uma equação com três conceitos: habilidades mais necessidades igual a oportunidades. Para mim, vocação é a maneira como Deus se expressa através de uma pessoa. Todo mundo tem uma centelha da divindade, que os teólogos dizem estar embutida na imago Dei, a imagem e semelhança de Deus, segundo a qual foram criadas todas as pessoas. Acredito nisso. Os consultores chamam isso de talento. Eu chamo de vocação.
Talento é uma habilidade que você tem. Vocação é uma coisa que você é. Por exemplo, uma mulher cujo talento é costurar usa seu talento enquanto está costurando. Mas costurar é uma habilidade. A vocação é algo mais fundo, mais intrínseco à natureza da pessoa. Algo como ser bom com pessoas, ser bom com raciocínio abstrato, ser bom com música, ser bom de coordenação motora e por aí vai. Ou então ser criativo, ter senso de humor, ser empático, isto é, saber se colocar nos sapatos do outro. Observe que o sujeito que é criativo é capaz de encontrar soluções no trabalho, mas também tem grandes sacadas para resolver conflitos familiares ou simplificar uma reunião de condomínio [Vai ser criativo assim lá longe!]
O segredo, portanto, é você identificar quem você é, como você funciona, qual é o conjunto de habilidades embutidas na sua natureza individual e singular. O grande lance é discernir o que é que você faz "com o pé nas costas" ou o que você faz naturalmente, como uma extensão de você mesmo. Em seguida você tem que buscar a excelência. Fazer como o Michael Jordan, que praticava mais de mil arremessos diariamente. Depois, você identifica o mercado, isto é, faz uma lista de quem são as pessoas e ou organizações que precisam desse seu jeitão peculiar de ser. Saber quem pode se beneficiar da sua vocação é meio caminho andado. Aí está a oportunidade. O último passo é você embalar a coisa de maneira atrativa para o seu mercado.
Aquela lengalenga de formar filho doutor, e que profissionais bem sucedidos são aqueles que cursaram universidade e arrumaram um bom emprego é coisa do passado. Não é isso que ensino aos meus filhos. O que quero para meus filhos é que eles identifiquem sua vocação, seu pool de talentos. Depois a gente pergunta onde eles podem desenvolver ao máximo esse mix singular que Deus lhes deu. Pode ser uma universidade, um estágio na floresta Amazônica, dias inteiros, inclusive finais de semana, atrás de um balcão, num laboratório dissecando rãs, ou quem sabe, atrás de um teclado de computador ou pilotando um fogão.
Você já ouviu falar em Jim McCann? Pois o camarada tinha uma pequena floricultura em Manhattam e hoje é o dono da 1-800-FLOWERS, a maior fornecedora de flores do mundo, onde se pode enviar flores e outros badulaques bonitinhos através de um clique no mouse ou discando um 1-800 que eu não sei qual é, até porque os caras não entregam no Brasil.
E no senhor Irineu Evangelista de Souza, já ouviu falar? Talvez não, mas você sabe quem é. Entrou para a história como o Barão, e depois, Visconde de Mauá. Começou como balconista de uma loja de tecidos, e foi também caixeiro. Depois foi trabalhar numa empresa de importação, onde ainda na adolescência foi o homem de confiança do patrão, aos 23 foi promovido a gerente, logo depois, se tornou sócio da firma, e aos 32 já era um dos homens mais ricos do Império. Foi quando decidiu investir na construção dos estaleiros da Companhia Ponta da Areia, em Niterói (RJ), o que o tornou fundador da indústria naval brasileira. Foi também banqueiro, participou da construção de ferrovias e rodovias e da implantação de uma companhia de gás para iluminação pública. Gostaria de saber em que escola se aprende isso. Abre mais parêntesis. É bem verdade que antes de morrer ele dissolveu todo o patrimônio para pagar dívidas e você pode dizer que ele ganhou o mundo e perdeu a alma, e depois perdeu o mundo que havia ganhado. Há controvérsias. E caso você tenha razão, acho que ele poderia ter se beneficiado muito dos meus almoços às terças. (Vai ser pretensioso assim lá longe!). Fecha parêntesis.
O fato é, companheiro, (achavas que eu ia esquecer o Luiz Inácio Lula da Silva?), que o futuro é dos que são capazes de transformar seu mix de talentos em produto ou serviço. Estes são os que têm um profundo senso de sua vocação e sabem onde querem chegar. No meio do caminho vão encontrando meios de se aperfeiçoar, aprender, crescer. Eles não esperam chegar lá para que depois se dediquem a uma coisa que eles acreditam, sabem e gostam de fazer. Eles chegam lá exatamente porque se dedicam a fazer uma coisa que acreditam, sabem e gostam de fazer. Ou como disse Eric Liddell, uma das estrelas inglesas dos Jogos Olímpicos de 1924, "para ser campeão não basta correr mais rápido, é preciso gostar de correr".
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