Philip Yancey
Sempre me disseram que a oração deveria ser uma con¬versa espontânea e natural entre mim e Deus. Porém, na maioria das vezes, na minha experiência, ela tem se torna¬do uma frustração a mais, em especial por causa de todas as minhas orações não respondidas.
Não sou o único com este problema. Na verdade, ele é maravilhosamente expressado num romance que está no currículo de leitura de muitas escolas de ensino médio e de faculdade nos Estados Unidos. Of human bondage (Da servi¬dão humana), de Somerset Maugham, é, na maior parte do texto, uma autobiografia. Ela inclui um incidente dramati¬zado que aconteceu a Maugham, do qual sua fé nunca se recuperou.
O personagem principal, Philip, havia descoberto o versí¬culo em Marcos que diz: "Qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome, crendo, receberão". Ele lembrou imediatamen¬te de seu pé torto.
"Ele poderia jogar futebol. Seu coração saltou de entusiasmo enquanto se imaginava correndo mais rápido que todos os ou¬tros meninos. Depois do período de Páscoa havia atletismo, e ele poderia se inscrever para as corridas; ele se imaginou saltan¬do as barreiras. Seria esplêndido ser como todo o mundo, não se sentir observado com curiosidade pelos novos garotos que desconheciam sua deformidade, nem precisar de incríveis pre¬cauções para se banhar no verão, enquanto se despia, antes que pudesse esconder o pé dentro da água.
Ele orou com toda a alma. Nenhuma dúvida o atacou. Ele estava confiante na Palavra de Deus. E na noite anterior ao dia em que deveria voltar para a escola ele foi para a cama tremendo de empolgação. O chão estava coberto de neve, e tia Louisa se permitira o luxo incomum de acender a lareira do quarto dela, mas no pequenino aposento de Philip estava tão frio que seus dedos adormeceram, e ele teve grande difi¬culdade para desabotoar o colarinho. Seus dentes batiam. Ocorreu-lhe a idéia de que devia fazer algo diferente do corri¬queiro para atrair a atenção de Deus; ele afastou o tapete que ficava em frente à cama, de modo a poder ajoelhar-se direta¬mente nas tábuas nuas, e então ocorreu-lhe que seu pijama era um conforto que poderia desagradar ao seu Criador, de modo que o despiu e fez suas orações nu.
Quando voltou para a cama, ele estava com tanto frio que por algum tempo não conseguiu dormir, mas quando o fez, foi de modo tão profun¬do que Mary Ann teve de sacudi-lo quando lhe trouxe sua água quente na manhã seguinte. Ela conversou com ele en¬quanto abria as cortinas, mas ele não respondeu; tinha lem¬brado que aquela era a manhã do milagre. Seu coração estava cheio de gratidão e de alegria. Seu primeiro impulso foi o de colocar a mão sobre o pé que agora estava são, mas fazer isto seria duvidar da bondade de Deus. Ele sabia que seu pé estava curado. Por fim ele decidiu, e com os dedos do pé direito to¬cou o esquerdo. E passou a mão sobre ele.
Ele desceu mancando exatamente no momento em que Mary Ann entrava na sala de jantar para a oração, e sentou-se para o café.
"Você está muito quieto esta manhã, Philip — disse a tia Louisa."
Quase todas as pessoas que conheço já tiveram uma expe¬riência semelhante a essa. A despeito das orações, os melho¬res amigos morrem em acidentes de carro; amigos e chefes se recusam a ver seu ponto de vista sobre certa decisão; você permanece preso a um pecado trivial.
O único sobrevivente de um acidente de avião escreve um artigo sobre como suas orações foram respondidas, mas e to¬dos os que não viveram para escrever?
Tenho lido as promessas específicas sobre oração na Bíblia e tentado seguir as instruções. Quis alívio para uma dor de garganta ou quis encontrar um texto importante que perdi, mas nada aconteceu em resposta a minhas orações. Então me pergunto: será que há alguém escutando? Tenho de admitir que essa experiência de orações não respondidas ajudou a des¬truir minha fé por algum tempo quando eu era adolescente. Se eu não podia contar com Deus, com quem poderia contar?
Escritores cínicos como Mark Twain e Bertrand Russell relacionam orações não respondidas como uma das principais razões por que nunca conseguiram engolir o cristianismo.
O problema central das orações não respondidas é que Jesus parece ter prometido que elas não existiriam. Ele poderia ter dito algo assim: "Senhoras e senhores, gostaria de apresentar-lhes o conceito de oração. Vocês sabem, naturalmente, que não se pode esperar que todos os humanos tenham sabedoria perfei¬ta, como Deus tem, então há limites quanto a quais de suas orações serão respondidas. As orações funcionarão exatamente como uma caixa de sugestões. Expressem claramente seus pe¬didos a Deus, e posso garantir que todas as solicitações serão cuidadosamente consideradas".
Eu poderia conviver facilmente com esse tipo de declara¬ção sobre a oração. Mas ouça o que Jesus realmente disse: "E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão" (Mt 21:22, NVI).
"Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus" (Mt 18:19, NVI).
"O que vocês pedirem em meu nome, eu farei" (Jo 14:14, NVI).
Essas são apenas algumas das veementes declarações a res¬peito do assunto no Novo Testamento. Há muitas outras, como João 16:23-27 e Marcos 11:24. Se tiver interesse, verifique-as. Elas comprovam para mim que não posso fugir do problema dizendo: "Jesus não prometeu realmente que as orações seriam respondidas". Todas essas garantias são feitas em profusão, e em português claro. A Bíblia não é vaga nessa questão.
Qual é, portanto, a solução para esse problema de oração não respondida?
Se voce quer saber a resposta, aguarde a reflexão da próxima semana.
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