Caros amigos e amigas, este blog é um meio que encontrei de compartilhar artigos, textos, reflexões bíblicas sobre a vida e os desafios de se por em prática aquilo que cremos. Boa leitura!
domingo, 18 de dezembro de 2011
Maria e o Chato
Por Eduardo Nunes
Pedro, meu sobrinho, quando tinha 5 anos, sentenciou: - “Dudu, você é chato”.
Pedro tem razão. E um chato que honre este título é chato até com o Natal. Não me entenda mal. Eu gosto de Natal. Gosto do clima todo. Divirto-me em ver shopping-center cheio pela TV. Desfruto da moleza do calor úmido do fim de ano. Aprecio a sensação de pausa mundial. Gosto da quebra simbólica que parece zerar tudo. Começar novamente. O clima de “ reset game” me consola.
Gosto do Natal, não gosto da imagem. Implico (sou chato, lembra?) com a típica mensagem do natal, com o recall da marca. A idéia cândida da ocasião. Os sininhos pra cá. As estrelinhas pra lá. Com o “todos os seus sonhos se realizem trololó”, “tudo o que você merece, tralalá”. Afinal, todo mundo é filho-de-deus bla bla", "bate o sino pequenino de Belém, blen, blen.
Minha chatice implica com as imagens do natal exclusivamente sereno. Com a trilha sonora do coral afinado de anjos. Com o brilho, os dourados e o glitter. Antipatizo com a natureza estilizada, domada na falsa árvore e na deslocada neve de algodão.
Isto sem falar na minha bronca especial, já conhecida: o forçado bonachão Papai-Noel. Sempre sorrindo. Bem alimentado. Entre um ho-ho-ho e outro, distribui presentes aos que foram bonzinhos. E exclui rebeldes e desobedientes. O Natal reduzido a presentes de uma cultura onde todos nos achamos credores merecidos de um universo que existe para nos fazer felizes.
Nada contra um clima bucólico, vez por outra. Mas, o "Natal de Maria" mostra que há mais. Revela uma mensagem ausente de nossos cartões de final de ano. Sim, Maria teve um natal só dela. Em bom português de marketing: Um “Private Christmas Event” rsrsrs. Uns meses antes da famosa cena da manjedoura. A primeira expressão dela sobre o Natal, o nascimento do salvador.
Uma jovem em seus 15, 16 anos. Uma adolescente nos parâmetros de hoje. Grávida, prometida, mas ainda solteira. Longe de sua cidade, na casa da prima, também grávida. Tempo para pensar. Primeira gravidez. Anjos com mensagens cifradas. Seria aceita por José? O que significava o filho que carregava? Promessas e dúvidas.
Ela vê Deus irromper literalmente dentro de si. Não se sente sozinha, nem triste. A criança a faz a mulher mais bem-aventurada, feliz do mundo. Profundamente grávida de alegria.
No canto conhecido como Magnificat (da primeira palavra, em latim), Maria descreve o seu sentimento natalino. E o que é o Natal de Maria? Não é anúncio de superficialidades nem tapinhas nas costas. É um natal que lida com os temas profundos da história: o poder, a opressão, a dor, a impotência e a esperança.
No canto de Maria, não existe um deus neutro, nem amiguinho de todos. A mensagem de Natal de Maria não dá ibope. Não gera consensos. Anuncia: - “Perdeu, playboy”. Não é uma boa notícia para todos. Os ricos não ganham presentes, são despedidos de “mãos vazias”. Reis são derrubados. A mensagem desagradará aos muitos herodes. Despertará a ira assassina dos que se beneficiam da injustiça.
O Natal de Maria anuncia a Justiça. E isto é briga. Deus levanta o braço, pesa a mão. Não há acordo com o mal. Não há trégua com a opressão. Não há paz possível entre “orgulhosos e humildes”. A paz anunciada pelo menino não é uma banal “sala de espera confortável”. É a paz da Justiça.
Maria se alegra com a justiça de um Deus que irrompe na história, dela e do mundo. Natal do anúncio da bênção através de uma mulher, jovem, moradora de uma cidade pequena, na beira de um reino dependente, na periferia de um império em crise.
O Natal de Maria é o dos pequenos, anuncia a esperança da transformação pelo avesso de uma sociedade perversa. Os indigentes são os VIPs. O louco é o sábio. O impuro é o santo. Não é o natal do trenó, de renas de nariz cintilante, nem das carruagens. É o Natal do jumento. No presépio de Maria, reis só cabem se ajoelhados diante do menino, esvaziados dos seus palácios e submetidos ao cheiro do estábulo. Só tem lugar para os que seguem uma estrela e não para os que querem ser seguidos.
O "Natal de Maria" não é um show, está mais para uma revolução. É o anúncio de Alegria, Esperança e Justiça. É um convite à transformação de tod@s, até de um chato como eu.
Um Natal de Maria para tod@s nós.
Magnificat (Evangelho de São Lucas, Capítulo1)
E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,
meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,
porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,
porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.
Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.
Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.
Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.
Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário