sábado, 9 de julho de 2011

Não só no trágico vive o homem


Luiz Vanderley de Lima

"Há um Deus por trás da história"

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa).

Alguns de meus amigos tem se mostrado desesperançados e manifestaram o mesmo sentimento: não acreditam mais em mudanças. Um chegou a dizer: “Meu amigo, eu participo das coisas, dos eventos, dos movimentos, mas no fundo eu acho que não vai dar em nada. Ninguém aqui vai fazer nada pra mudar a situação”. Independente do contexto específico de cada um, o ponto em comum é que ambos perderam a esperança que foi detonada pela realidade que os cerca, tal qual foi exposto nos versos de Rui Barbosa acima.

Quero usar este post para dar uma resposta a estes meus amigos e a tantos outros que se encontram no mesmo estado.

Sabe amigos, para mim, o que mais detona a esperança e a alegria de viver é quando a realidade nos chega com toda sua nudez e crueza. Quanto mais dura for esta realidade e quanto mais ampliarmos a nossa visão da mesma, mais a esperança será duramente atacada e terá pouca chance de prevalecer. Vocês têm razão, então, de estarem assim, pois vivendo o que vocês vivem seria um milagre manter a esperança.

Assim, o acesso constante a notícias trágicas; a invariabilidade ou a inércia por parte dos que nos cercam quanto a se procurar e se tentar efetivamente mudanças; a demora no retorno de respostas satisfatórias; a mesmice, o engessamento dos sistemas; as situações de dor, de sofrimento e de caos que se mostram inalteradas e prevalecem contra todas as tentativas de solução e cura, sim, todas estas coisas podem mesmo detonar a esperança, a motivação, a alegria de viver. Mas gostaria de lhes dizer como eu tenho tentado lidar com esta realidade pra não deixá-la me dominar. O que vou lhes expor é uma escolha deliberada e dinâmica por uma forma de construir a vida. São práticas que lanço mão à medida que percebo minha esperança ser alvejada.

Não ficar inerte no trágico. Sempre há alguma coisa a ser feita e o sentimento de que estamos fazendo algo pode nos retornar a esperança. Uma palavra de conforto, uma ajuda prática e solidária, erguer a voz em protesto, assinar um manifesto, qualquer ato que se direcione a mudar a realidade mantém a esperança viva. Ainda que nos consideremos totalmente impotentes para qualquer ação, teremos ainda um recurso eficaz: a oração – pedir a Jesus que console e ampare os envolvidos. Pra mim é muito consolador saber que há um Deus por trás da história humana e que Ele não está impassível nem ausente, mas continua trabalhando para demonstrar seu amor a todos. Esta certeza pode não responder o trágico, mas conforta na tragédia. E, é claro, pode ser que nós sejamos a resposta amorosa de Deus à tragédia de muitos.

Não ficar imerso no trágico. Se por um lado agir diante do trágico nos move a vida, por outro, não posso me esquecer que a vida tem outros lados, sim. E, por mais que seja inevitável encarar a tragédia e sua realidade, devo sempre escolher dar um tempo para o lúdico, para o ócio, para o lazer. Amigos, conversa fiada, contar “causos”, piadas, ver filmes descontraídos, uma dormidinha de leve, curtir os filhos, dar um bom tempo ao cônjuge… A percepção da realidade deve estar entremeada com estas coisas que confortam e nos levam para um outro lado também real da vida.

A esperança é detonada quando o funesto da vida ocorre full-time. Temos de dar uma parada e olhar pra este outro lado que esta bem ali na frente da gente e, às vezes, clamando por nosso tempo, por nosso riso. Aliás, pode ser que nossa imersão no trágico esteja nos afastando de alguns de nossos queridos e esteja fazendo-os viver a tragicidade de uma vida longe de nosso convívio. Assim, volta e meia, precisamos mudar de assunto, mudar o foco, esticar as pernas e dar boas risadas.

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