sábado, 19 de maio de 2012

Chorar é Humano!


Por José Barbosa Junior

Postado em 7 de dezembro de 2011

(Dedico este texto em especial à minha amada Sarah Cazella, sua família, e ao amigo Fábio Fino. A dor pela Amanda faz de vocês parecidos com Jesus)

Só acredito num evangelho que me torne cada vez mais humano.

E uma das faces da humanidade que me chama a atenção em Jesus, é a sua capacidade de sofrer, de se comover, de chorar.

Como não chorar diante da notícia de que um amigo querido morreu? Jesus não negou a dor, não esbravejou palavras “de vitória”, sequer declarou que não sentia nada… Ele, o Deus encarnado, chorou, movido por um profundo sentimento de que “não era pra ser assim”…

Lembro-me agora do Júlio, amigo querido, bombeiro, especialista em primeiros-socorros… dedicou sua vida a ajudar o próximo, a salvar vidas, no entanto, um câncer fulminante primeiro lhe arrancou parte do aparelho digestivo e mais tarde, numa metástase cruel, fez com que seu cérebro “derretesse”… No seu velório, fui chamado a dar “uma palavra” como amigo, logo depois que dois pastores já haviam dado suas “lições sobre a morte”… Contrariando as palavras até então dadas, olhei firme para a mãe e a esposa do meu amigo, e disse: “Chorem! Gritem de raiva! Questionem! Deus não ficará chateado… Ele sabe a dor que vocês estão sentindo! Não era pra ser o Júlio… não ele, tão novo, tão querido, tão amigo…”

A morte não é uma coisa boa. Sei que talvez muitos queiram refutar dizendo as palavras de Paulo, “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro.” Minha resposta? Ora, vão catar coquinhos!!! A morte pode ser até boa para quem parte, como fim do sofrimento e dor, mas vá explicar isso para uma mãe prestes a perder a filha adolescente, também vítima de um câncer violento e cruel…

Penso agora na Amanda Silva. Amanda tem 17 anos e está internada há algum tempo no Instituto do Câncer, em São Paulo. Descobriu o câncer há um ano e nesse período a doença foi devastadora. Conheci Amanda faz um mês, em sua casa ainda, menina de sorriso fácil e lindo. Já estava debilitada, mas ainda trazia esperança de dias melhores. Hoje parece que essas esperanças foram embora, os médicos já “lavaram as mãos”, Amanda não sente dor por causa das doses, cada vez mais necessárias e maiores de morfina. Estive com ela na sexta e no sábado. Espero estar com ela amanhã…

Amanda se tornou especial para mim por causa de outra pessoa especial, minha namorada Sarah, que a conhece desde pequenina, assim como também outros amigos que, como a Sarah, sentem a dor de ver a Amanda “indo embora” a cada dia…
O rosto já desfigurado, pernas e braços inchados, respiração ofegante (quando não por aparelhos)… tudo isso só aumenta a dor de ver a linda menina sendo vencida pela terrível doença.

Não tenho o que dizer. Para a Sarah, eu digo sempre: Chore! Questione! Brigue com Deus… Ele não ficará chateado… Tanto para ela quanto para os amigos, o que tenho a oferecer é o ombro e o chorar junto. Não tento “defender” Deus… nem mesmo dar uma “explicação teológica” pra tudo isso. Creio num milagre? Sim! E crerei até o final… Mas, e se o milagre não chegar (“hoje o meu milagre vai chegar” pode até vender bastante, mas não encontra eco no chão do sofrimento humano)? Chorarei novamente… terei raiva da morte mais uma vez…

Escrevo também no dia em que recebi a notícia da morte do “seu” Jair, pai de duas queridas amigas de Teresópolis. Um infarto fulminante e em poucos segundo, o pai que levava a filha em casa já não vivia mais. Hoje foi seu enterro. Consegui falar com a Adriana (uma das filhas) e orar para que Deus console a família. Darei o abraço amigo assim que chegar lá…

Deus nos fez humanos… com lágrimas nos olhos… o próprio Deus, encarnado, chorou…

Choremos! Gritemos! Lutemos com Deus! Não deixe que tirem de nós o privilégio de experimentar o Consolador (aliás, interessante uma das “faces” de Deus ser a de “Consolador”… parece que Ele sabia que sofreríamos…) O choro sempre foi realidade na vida daqueles que se dispuseram a “ser gente”, a “se dar pelos outros”, portanto, que ao expressar a dor, saibamos que temos um Deus que “sabe o que é padecer”…

Paz, mesmo em meio ao sofrimento, é o que desejo a vocês.

Em tempo: Hoje mesmo, 07/12, a Amanda não resistiu ao câncer e descansou… a dor é grande… os questionamentos… e a raiva que sinto da morte!

José Barbosa Junior – São Paulo – 07/12/11

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